Cigano Gonzales

 

Concluindo o Evangelho no Lar, lido o título escolhido aleatóriamente: "Não separe o homem o que Deus uniu."


      Após encerrar o trabalho de leitura, comentário e preces, o médium incorporou o "Cigano Gonzales".

      Ele saudou a todos e pediu que defumasse o ambiente apenas com "incenso e mirra", dispensando as demais misturas de ervas. Apenas uma ou duas poucas pedrinhas produziram uma fumaça densa e perfumada. A defumação é necessária para limpar o ambiente, dissolvendo eventuais larvas (a palavra larva vem do latim e significa espectros, fantasma, etc.) trazidas pelos espíritos mecessitados que aqui vieram ou foram trazidos para ouvir a doutrina. A limpeza sempre é feita pelos trabalhores espirituais, mas a defumação facilita grandemente o trabalho.  


     Sobre a leitura, disse que os espíritos já sabem antecipadamente o que vai ser lido. Se abrimos o livro aleatóriamente e ficamos em dúvida, é porque necessitamos abrir novamente. A leitura de hoje era para ser ouvida por muitos espíritos que ainda se mantêm apegados às relações matrimoniais já encerradas pela morte. Contou que hoje foi trazido para ouvir, um espírito desencarnado há tempos, mas que exigia que sua viúva permanecesse assim o resto da vida. Sofria e fazia sofrer por muito tempo. Foi um homem de posses, casou-se,  morreu jovem e sem deixar filhos. A viúva casou-se novamente com um homem que não era rico, tiveram filhos e passaram a viver dos bens e empreendimentos deixados pelo finado. A família vivia em um dos estados do nordeste, e o homem havia sido um proprietário local que, depois de morto e sem deixar herdeiros, não conseguia aceitar que a viúva retomasse sua vida e usasse sua herança para criar seus filhos. Enfureceu-se e passou a obsidiar a família.  Mas a mulher logo sentiu os ataques e buscou ajuda espiritual, e o acesso dele à família foi interditado. Mas ele não desistia e irradiava constante ódio, a tal ponto que a viúva passou a ter repulsa pela lembrança dele. O finado converteu-se no que se chama "egum", uma alma sofredora , uma "alma penada". Nunca ficou sem socorro, pois sempre o cigano  Gonzales aparecia para confortá-lo. Aparecia como cigano pobre, de trajes pobres para mostrar claramente que não eram necessárias riquezas na vida espiritual. Exortava-o a procurar ver as razões do que acontecera, porque as riquezas que ele deixara eram um empréstimo a ele, e também era empréstimo à mulher e à sua família. Mas o egum sempre o repelia rudemente. A viúva já está velha atualmente, para morrer, e o penitente não o ódio. Então fora trazido hoje para ouvir a palavra. Causou confusãoe quis ir embora. Foi trazido de longe e disse que ia embora sozinho e saiu. O "Seu Tranca", guardião da tronqueira não o impediu. Mas quando esses eguns saem sozinhos, fugidos, logo na primeira encruzilhada encontra seus desafetos e perseguidores e como não sabem se defender nem para onde fugir, retornam forçadamente para perto dos Exus e até para a casa de onde fugira do trabalho. Mas não sei como terminou esse caso, não perguntei se ele voltou.

      Dentro do tema, Gonzales passou a falar então sobre os relacionamentos que é especialidades dos ciganos. 
       Explica que os ciganos viajam o tempo todo, nem sempre junto com a familia nuclear. De qualquer modo o clã é sagrado para os ciganos. Seus casamentos são arranjados pelos pais e nem sempre os conjuges se amam, mas sempre se respeitam. Os homens viajam e nessas jornadas se encontram com outras mulheres. As mulheres, da mesma forma têm seus homens. Quando o casal se reencontra, o carinho é reciproco, e se aproveita o que há de melhor, a família e os filhos. Não se pergunta se a mulher teve outro nas suas andanças. E se ela fala sobre isso, o esposo a felicita, jamais a condena. Muitas vezes dessa amizade nasce um grande amor. Por essa experiência tão ousada de relacionamento, os ciganos se constituem em sêres que realizam grandemente o respeito entre os sexos. Não existe malícia, nem promiscuidade, existe respeito à liberdade. No entanto esse mesmo cigano Gonzales disse que em uma encarnação matou sua esposa por ciúmes e que se horroriza por isso. Explica que o ciúme é sentimento negativo e quem tem ciúme não tem amor. O ciúme é posse, é prisão, é apego àquilo que morre que é a personalidade, o nome, o ego.  
            Alguém perguntou sobre a insistência de uma pessoa em ter o amor de outra, que até pede para fazer "amarração". Ele explicou que "amarração" é magia negra e ninguém tem direito de fazer isso. É um abuso e uma violência e tem as piores consequências. Quando se empreende uma obra destes, constrange-se seres elementais a ficarem aprisionados a esse trabalho constante de amarrar. Mas sempre tem a hora de libertação e então os sêres libertados se voltam contra aquele que promoveu sua prisão e se vingam sem dó. Mas pode haver uma indução para que dois se encontrem, mas sem constrangimento. Ele lembrou que é muito comentado que as pombo-giras são muito fazedoras de aproximaçoes de amor, etc., mas que isso não é verdade, porque as que ele conhece proximas de nós, Maria Catiço, as duas Marias Molambo, a Cigana Menina, nenhuma delas se dedica a isso. Essa fama se liga mais ao estágio de médiuns que recebem pombo-giras, "sentem-se mulheres", e projetam seus desejos de estarem com homens, como se fossem ação das pombo-giras. O médium necessita estudar, esclarecer-se e exercitar a caridade. 
        Afinal a homosexualidade mesma pode ser colocada dentro da normalidade humana. O espírito encarna para evoluir, para ter novas experiências. Não encarna para ter filhos, para formar família, patrimônio e status etc., pois isso tudo fica neste mundo terra. Às vezes encarna como homem, em outra encarnação pode vir como mulher e em outra pode pedir que venha como homosexual. O espírito não encarna para procriar. É apenas o corpo que tem a função de reprodução, não o espírito. Portanto, a função do casamento não é só para procriação. Os espíritos desencarnados unem-se pela comunhão dos pensamentos e também o mesmo se deve dar na esfera carnal. É claro que a perpetuação da espécie faz parte da evolução espiritual também. 
         Vemos que os casamentos, na sua maioria são contratos, são acordos entre familias. Os reis fazem acordos de estado e casam seus príncipes por causa dos negócios. Isso causa sofrimento e não se pode condenar esses principes têm casas em vários lugares, e para longe enviam suas mulheres para que tenham seus homens sossegadamente, porque são estranhos entre si e já têm seus afetos com outros e outras. Cumprem a função de estado. Isso deve servir de exemplo aos casais comuns que também defrontam com necessidades. Não se casa por amor na maioria dos casos. Antes de criticar a "vida dissoluta" dos nobres, poderiam antes enxergar-lhes as necessidades e mesmo avaliar suas práticas, em vez de se sair aos tiros e ódios com as mulheres ou maridos que deslizaram na infidelidade.  

           

Nenhum comentário:

Postar um comentário