Exu Okelelê da África ao Brasil

 18 de janeiro de 2015

Com a palavra BAHIANO TONINHO

 Eu venho contar mais um pouco da história de nossos espíritos, porque o Vô Bizu  disse que tem muito o que fazer e deixou para eu relembrar os casos.

Já te contei que estive encarnado na África conhecido por Okelelê, no litoral, e conhecia magia. E por viver a praticar magias sempre interesseiras a mim ou amigos na minha tribo, desencarnei e estive a sofrer nos mundos escuros e de dor. Depois de muito sofrimento fui atraído pelos guardiões exus e fui trazido em espirito para trabalhar numa senzala do Brasil, na Bahia. Depois disso não mais voltei par a Africa.

No trafico de escravos os britânicos foram os primeiros. Eles mandaram forças para a África, e logo constataram que aquele enorme continente abrigava uma gente que apesar de todos serem negros, eles mesmos se diferenciavam entre si, seja por tipo étnico ou simplesmente por tribos, por enfeites etc., e nutriam ódios tribais que jamais terminavam. Não conheciam o pecado, mas também não conheciam a misericordia. Um negro zulu, deveria eliminar todo negro que não fosse zulú, matando-o ou prendendo-o e vendendo como escravo a quem o comprasse e os ocidentais eram compradores ávidos.
        Muito contribuiu para sujeitar completamente os africanos ao poder britânico, o fuzil de retrocarga, inventado no século XVIII. Na África os brancos eram poucos e os mosquetes e armas de carregar pelo cano, não impediam que o grande numero de inimigos negros dominasse o pequeno numero de brancos. Mas com a possibilidade oferecida pelo fuzil de retrocarga quando o soldado rapidamente introduzia um cartucho completo pela culatra da arma, podendo dar até sete tiros por minuto, os africanos perderam a guerra.
        Se não haviam para comprar negros capturados pelos seus inimigos também negros, as armas de fogo eram recurso seguro de provimento de escravos aos civilizados.
         Então foram traficados um sem numero de negros capturados de todas as etnias. Esse contingente era embarcado nos navios negreiros, todos juntos, inimigos, adversários, etc., todas as etnias lado a lado e o resultado era devastador. Os aprisionados guerreavam entre si, inimigos naturais que eram na África. Eram grandes as baixas nessas viagens, mais da metade morria. Os cativos só foram dar-se conta de que deveriam se unir quando desembarcavam em terra estranha, tendo um mar a separa-los de seu continente.  Daí surgiu o candomblé no Brasil, unindo os Orixás de todas a tribos e ressignificando sua cultura. Os ódios étnicos e tribais não tinham razão de ser entre escravos. Não mais existiam tribos.
         Dessa forma veio escravizado para o Brasil no século VXIII  o hoje Vô Bizu, moço ainda, que morava onde hoje é a Nigéria, no interior enquanto eu morava no litoral tendo Yemanja como Orixá. Bizu foi vendido para um senhor de engenho na Bahia, e na senzala conheceu o Quinzinho, o varão reprodutor da senzala. Aqui continuaram seu culto africano, bateram os tambores, cantaram e vieram atende-los os seus espíritos ancestrais, exus etc. etc. Esses guardiões exus trouxeram para trabalhar na senzala outros espíritos da África e um deles, eu, o feiticeiro  morto africano  Okelelê, que ali ficava a fazer quase nada além de olhar, mas me preparava para exercer como exu para o Bizú. Não vim da África como escravo. Vim trabalhar com os escravos negros, nunca fui escravo, pois quando reencarnei em Salvador, já existia a Lei do Ventre Livre.
       Bizu chegou na senzala e foi apresentado ao Quinzinho, que era o Pai da senzala, o reprodutor e pai, o conselheiro e sacerdote, o mago e protetor. Então eles tiveram que inventar a África brasileira. Quinzinho veio já adulto da África, conhecia muito a magia africana. Bizu veio rapazote e também se dedicava à magia,  não tinha o desenvolvimento, mas já tinha a vidência. Quinzinho passou a desenvolver Bizu nas evocações, nos ritos ancestrais. Negros de várias nações ali estavam sujeitados e estavam fundando um novo mundo, uma nova religião, uma maneira de viver diferente da África, não tinham direito a nada, mas também não deveria haver ódios tribais. Ainda havia algum ódio. O capitão do mato era negro mau, egoísta, sádico, corrupto, e muitas vezes era originário de tribo diferente da senzala e ainda alimentava ódio tribal.
     Nesse trabalho espiritual, Bizu tanto praticou, tanto fez que um dia ele viu minha figura. Fugiu apavorado, dizendo que via um demônio muito feio. Eu devia mesmo ser muito feio e fedido também porque quando cheguei acompanhando a falange dos exus, os mestres da senzala anunciaram que tinha chegado um ancestral para trabalhar ali e que fedia muito. Pois bem, Bizu me viu e saiu em fuga dizendo a Quinzinho que um demônio o ameaçava. Quinzinho falou comigo, e fomos apresentados para trabalhar conjuntamente.
       Quinzinho era muito amado na senzala, muito respeitado, mas tinha inimigos também. Havia um escravo que tinha muito ciúme da posição de Quinzinho, de como ele influenciava, de ele ser o reprodutor etc.. e resolveu mata-lo. Pediu emprestada ao capitão do mato sua garrucha, que este depois disse que ele lha roubara, e diante do povo reunido com Quinzinho, pretextando uma gravidez que este infundira à sua mulher dez anos antes, disparou contra Quinzinho. O povo reagiu e de imediato abateu o assassino. A senzala estava sem pai agora e o mais próximo do Quinzinho era o Bizu. A senzala alvoroçada precisava saber o que fazer. Este era o momento de se revoltar, e agora eles tinham uma arma. Iam fazer a revolta agora, e Bizu repentinamente elevado a pai da senzala deveria dar a ordem. Precisava pensar rápido e Bizu não pestanejou. Essa arma já trouxe morte para nós e não nos vai trazer liberdade. Devolva-se já ao seu dono, o capitão do mato. O capitão desculpou-se dizendo que o assassino lhe roubara a arma e as coisas continuaram, agora com Bizu como o pai da senzala e como era negro forte e saudável, passou a ser o varão reprodutor e isto lhe era muito constrangedor.
      Eu sempre aparecia ao Bizu a lhe inspirar revolta, guerra contra o senhor, fuga, etc., mas Bizu não se abalava. ele sabia dos riscos e tinha também sabedoria ancestral.
      O Sinhô tinha muitos filhos, e deixou um deles para ser o novo Sinhô. Esse moço era totalmente sem de respeito qualquer. Logo que assumiu os mandos, entrou a senzala e violentou um escrava, e fez isso diante de todos, para humilhar Bizú, com o capanga lhe guardando dizia, o que é que você pode fazer??? E Bizú manteve a firmeza pra não por tudo a perder. Teve de sofrer calado a humilhação a todos.
      Mas não ficava nisso, sinhozinho voltava e de novo fazia seu espetáculo pra todos verem, parece que esse era seu prazer! Ofender, submeter, Humilhar! O povo queria partir pra revolta, mas Bizú sabia que os negros não teriam chance. A humilhação ficou insuportável e então Bizú me chamou, pediu ajuda pro Exu Okelelê!!! E quando exu aparece é muito diferente do que vocês vêm hoje, exu educado, cumprimentando, tendo paciência. Não é assim. Exu aparece desafiando, gargalhando, causando. Então seu Bizú, agora tá precisando de ajuda?? Eu já não disse que devia fazer a revolta na senzala? E o que você lucrou esperando? Eu não vou ajudar coisa nenhuma!!! Você que se vire com esse sinhozinho! Fiz esse barulho todo, mas é claro que eu queria trabalhar. Seu Okelelê, a situação escapa do controle e necessito operar na magia. Você pode me ajudar? Precisamos dar o trôco e uma lição nesse sinhozinho...
         Depois de muitas exigências etc. resolvi que ia ajudar, e usando meus conhecimentos da África, fizemos uma magia da seguinte maneira: Tomamos o esperma do sinhozinho, isso mesmo, o imbecíl deixava seu sêmen nas negras que violentava, sem saber o perigo que corria. Pegamos um pouco do sêmem, fizemos uma ........, pegamos uma cobra venenosa, uma jararaca.... ..........., ela foi se aninhando ..... e então................
         Muito bem, o restante da magia o senhor decide se vai escrever... Terminando o trabalho, esperamos pra ser se dava certo. E no outro dia lá vem o sinhozinho, todo cheio da pose, com o capanga do lado. Entrou na senzala, dirigiu-se a uma negra bonita e forte e lha agarrou, arrancou-lhe as roupas e atacou. Mas algo não deu certo. Ele não teve potência para penetrar a negra. Tentou, apavorou-se e não conseguiu. Saiu dali doido. 
          No outro dia lá vem ele de novo, agora vem sozinho, vem muito excitado mas não quis arriscar na presença do capanga. Entrou na senzala, olhou devagar e pegou um negra muito jovem, bem mocinha. Arrancou-lhe o gibão desnudando-a e armou-se na sua espetaculosa obra. Mas ao consumar, viu-se de novo sem potência. A negrinha de olhos esbugalhados foi empurrada com violência para longe. Pensou logo em alguma macumba. No terceiro dia, escolheu uma negra jovem esposa de um escravo, na esperança que a humilhação ao marido lhe daria forças. Tinha potência antes, mas na hora, perdia as forças. Em uma situação a escrava negra zombou de sua incapacidade e ela matou a mulher.
         Estava convicto que Bizu lhe tinha feito macumba e foi lhe dirigir ordens e impropérios para desfazer o malefício. Mas Bizu, confirmou o feito e disse que ele nunca ia esquecer dele durante toda sua longa vida de impotente. Ele então mandou açoitar Bizu, para mata-lo no tronco. Quando era levado Bizu disse ao povo que não ia morrer no tronco. Os feitores tinham um tal jeito de armar o golpe do chicote que no golpe arrancavam pedaços de carne e muitas vezes quebravam as costelas dos açoitados. Bizu  suportou 7 chicotadas mortais sem morrer. O feitor cansou de bater e mandou que o recolhessem. Ele saiu vivo do tronco. As negras cuidaram dele e voltaram todas alegres porque ele estava bem, parecia que logo se recuperava. E lá ficou bizu deitado no seu catre. Então ele se levantou, saudou a mim, seu exu guardião e me agradeceu a parceira e daí eu vi ele de pé, mas vi também o seu corpo deitado no catre.
Bizu morrera e partia...

     Bizu morreu! E agora? Dizia o povo da senzala!
     Bizu morreu! E agora? pensou o sinhozinho que não demorou a perceber que tinha se condenado à impotência para sempre, pois o único que podia lhe devolver a força, agora estava morto por sua ordem! 
         E foi assim mesmo, viveu até a velhice, sempre impotente.

     Os escravos então olhavam sinhozinho com desprezo e ódio. Ou ainda pior o olhavam divertidos a lhe gritar com os olhares sua desdita. Sinhozinho quis acabar com sua vergonha naquela senzala. Mandou fechar a senzala e incendiá-la para que todos que conhecessem sua humilhante impotência morressem.
Então veio o exu Sete Chamas, riscou ali seu ponto, a senzala pegou fogo e todos foram queimados vivos e um deles, um negrinho interessado em magia, mas que andava com um rosário nas mãos. Esse negrinho era encarnação desse moço médium que fala as palavras deste baiano Toninho, que já o foi feiticeiro Okelelê. Esse médium também fala as palavras do Vô Bizu, e do flamejante exu seu Sete Chamas.

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