sexta-feira, 23 de agosto de 2013

P TRABALHO COM MATA VIRGEM, MARINHEIRO E BOIADEIRO.

22 de agosto de 2013 quinta feira 20h00


    Iniciou o trabalho com o caboclo Mata Virgem. No seu ritual de chegada o caboclo saiu do local e mirou o céu nublado. Me mostrou o brilho da lua pelas brechas das nuvens e disse, vou abrir esse céu. Fez o gesto de disparar flechas com seu arco em direção ao satélite. Logo mais tarde, outro guia pediu para ver se o céu estava limpo, e lá a estava a lua cheia dominando o céu sem nenhuma nuvem. Coincidência ...

    "Seu Mata" desenvolveu conversação comigo, de início dando-me um passe que me trouxe bem estar pois estava muito cansado e tenso. Falou sobre si e suas encarnações. Encarnara como indio, e depois como espanhol. Como civilizado teve todos os vícios tais como, fumar, beber, sexo bastante etc.. Ficou muito tempo nos pontos de exu, não como exu, mas como sofredor mesmo, pois disse que os trabalhadores exus não são sofredores, embora muitos tenham algo a resgatar. Disse que pelo menos metado dos "exus" nada têm a resgatar e permanecem em exercício nos pontos por considerarem que ali são necessários, ou têm algum interesse em se manter próximos de espíritos a eles ligados e que ainda estão apegados à matéria. 
      Peruntei sobre o que é ser "sofredor" nesses pontos de exu e ele exemplificou que ele mesmo construia seus sofrimentos preso à memória de sofrimento como índio, perseguido pelo branco e por civilizações indigenas mais "avançadas" e queria então encarnar como branco. Foi atendido seu desejo, veio como espanhol, viveu essa vida, morreu e depois verificou que ainda era cativo aos liames da matéria. Então houve o momento de esclarecer-se e arrojar de si esses apegos e deixar-se levar pela luz. Não trabalhou como exu e passou direto a postos de trabalho na "direita". O trabalho de exu é mais ligado às coisas materiais, empregos, dinheiro, negócios etc.. e os caboclos não gostam desses trabalhos. Dedicam-se à saude, às curas, as liberdades etc.. Dizem que indio não gosta de trabalhar, e não gosta mesmo desse trabalho sistemático, rotineiro, sem meta. Índio é guerreiro e para ele a vida é um desafios. Existem também exus caboclos, cuja figura é metade de um índio com cocar, e metade uma caveira, a qual é o emblema dos exus. São esclarecidos, mas são indios muito energicos e bravos e têm lá seus passados canibais também. Têm ainda a natureza intrépida e combativa, por isso preferem trabalhar como exus. 
---- Perguntei sobre a contribuição dos indígenas na medicina, que hoje os brancos tanto querem entender. Queria saber se sua medicina era mental, ou espiritual, ou mesmo cerebral, dado que suas substâncias e práticas envolvem substâncias que alteram a consciência etc., até mesmo o tabaco....
---- Explicou sobre o tabaco, sálvia e palo santo. A fumação do tabaco penetra nas frestas mais estreitas e dissolve resíduos de larvas astrais liberados pelos pensamentos e sentimentos humanos, ou retirados por trabalhos de limpeza. O tabaco tem um fumaça de odor muito característico, que não agrada a todos e muito menos aos espíritos maus ou sofredores. O palo santo, que é um lenho aromático, ao mesmo tempo limpa e perfuma o ambiente e em certas cerimonias queima-se em fogueira um tronco dessa madeira para higienizar astralmente. Também a sálvia se queima com essa e outras finalidades. Diferentemente dos tribais africanos que podem sofrer com obsessão, isso não ocorre entre os nativos das américas por causa das muitas cerimonias de limpeza etc.. Além da prática da cura por meio dos ritos mágicos existe também a identificação da harmonização através de pêndulos, à guiza dos radiestesistas. Usa-se por exemplo, um pêndulo de dente de onça, preso em pedaço de madeira e pendurado numa fibra fina de cipó. O dente é apenas o ponteiro indicador. O pagé pede ao cacique que providencie um dente de onça e este estabelece um desafio a dois bons arqueiros para caçarem a onça. Aquele que a trouxer geralmente cresce aos olhos da tribo. Já aconteceu que por influência dos costumes brancos, o índio que matasse a onça era morto pelo rival que ambicionava a recompensa. Os caciques desconfiaram e estabeleceram que só receberia honras se os dois caçadores retornassem são e salvos. O cacique era aquele que não sabia muita coisa, mas sabia quem fazia melhor alguma coisa. Os ritos de passagens eram excelentes oportunidades de identificar quem era bom em alguma coisa. Por exemplo, quem conseguia carregar um tronco muito pesado, estava indicado para fazer as construções. Os que se destacavam nos torneios de flecha seriam os atiradores. Aqueles que suportassem as picadas de abelha sem fazer cara feira, era sempre o escolhido para buscar o mel para a tribo, até mesmo aquele que tivesse muitos filhos era instado e engravidar mais mulheres e produzir filhos fortes para a tribo..., isso mesmo, porque os índios não têm sentimento de posse sobre as mulheres e sexo para eles é uma coisa natural, e muito gostosa também. Fazem sexo por prazer com quem quizer fazer com eles, respeitam quando não lhes querem mais e não têm conceito de adultério
  
       Também por essa razão, apesar de haver tambémencarnado como civilizad, o caboclo "Mata Virgem", sente-se mais à vontade ao trabalhar como índio.

Depois dele veio o Marinheiro João Guilherme,

      Cambaleando sempre, equilibrando-se tal qual na sua jangada, saudou e contou parte de sua história: "Fui sempre homem do mar, fui pirata também e por muito tempo. Antigos piratas eram ciganos dos mares, homens sem pátria. Adoeciam muito e não encontravam quem lhes tratasse, pois não eram gente da terra. Viviam dos saques a outras embarcações, e um dos tesouros era o rum. Roubavam carregamentos de rum e como não podiam transportar tudo aquilo, procuravam alguma ilha deserta e enterravam na areia e faziam um mapa tosco dos locais dos seus tesouros. Mas também eram muito vigiados e os comerciantes, logo desconfiavam quando um navio ficava dois ou três dias ancorado em alguma enseada e seus marinheiros eram visto muito mareados. Sabiam ques estavam bêbados e tinham presa de rum. Então, muitas vezes, quando eles iam embora o pessoal ia buscar a carga roubada.  Quando tinham bebida os piratas bebiam muito e como isso tirasse o apetite, sem perceber ficavam subnutridos, adoeciam e morriam. 
        Depois de pirata, reencarnei e entrei na marinha do Brasil. Fui servir no sul, numa época de guerra. Os comandantes nos colocavam a vigiar o mar para ver navios atacantes, que nunca apareciam. E eles falavam de um jeito que a gente acreditava mesmo que os navios já estavam a aparecer no porto. Mas nada acontecia. Eu ficava tremendo de frio e mal agasalhado como era nossa Força, a olhar para o horizonte esperando um combate que tirasse aquela apatia. Mas nada de isso acontecer. Não podia fumar e muito menos beber, porque diziam que isso distraia. Ficar no forte era pior ainda. Lá a depressão matava mais do que qualquer outra doença. Muitos suicidavam, e eu mesmo suicidei. Não via caminho mais pra mim e achei que não servia mesmo pra nada, melhor morrer. 
       Morri por suicidio e nem por isso fui para o inferno nem para o vale dos sofredores. Não sei por que, mas me encontrei naquela situação intermediária, sem acusações e sem procura de familiares também. Havia a procura de um ou outro colega de profissão, mas pouco. Não sofri horrivelmente por haver suicidado, como dizem por aí. Acho que eu tava numa situação tão estagnada que a mudança não foi tão sensível e até me senti livre daquela vida e quando disseram que eu deveria encarnar pro mar de novo, eu resisti e disse que não queria mais aquela vida, que preferia milenios no trabalho no mundo espiritual, mas não voltava para aquela situação de mar. Mas tanto insistiram que me convenceram, que eu deveria voltar a encarnar para vida no mar, mas que não seria num lugar frio e sim na Bahia, lugar quente e gostoso. Falaram tão bem de lá, me mostraram como eram as coisas lá e acabei concordando e depois de ficar um bom tempo na câmara de reencarnação. Antes de reencarnar necessitamos ficar na câmara de reencarnação onde os espiritos especialistas apagam nossa consciência da vida passada para que, esquecidos de tudo, recomecemos do zero. 
Nasci para viver na Bahia, como pescador no mar. Vivi no início do século XIX, na mesma região em que viveu o Bahiano Toninho. E foi muito bom mesmo. Tive na vida uma cabana na beira do mar, a minha nega que amei a vida toda, e tivemos um filho que ,e ajudava na pescaria e que se tornou também pescador. Tinha minha jangada que era um pau cavado. Saia para pescar na madrugada, e voltava logo depois do nascer do sol, pra vender o que pescasse, ou comer para aquele dia. O que se conseguia não dava para enriquecer, nem comerciar muito. Mas era muito bom aquilo. E na Bahia conheci também o candomblé, conheci o bahiano Toninho, esse mesmo que trabalha com a gente. Lá se aprendia tudo quanto é mandinga, seja pra desfazer o mal e pra se vingar também, mas a vida na Bahia era tão gostosa, que sempre se deixava a vingança pra outro dia. Primeiro se ia pra rede, aproveitar a brisa, conversar, ver o tempo passar e em outra hora, quando sobrasse tempo, se usava pra mandinga de maldade. Felizmente não se encontrava tempo pra isso. E foi assim minha vida ali. Eu nem sabia nadar;  uma vez minha jangada virou no mar, eu tava sozinho e me agarrei nas boias das redes lançadas pelos colegas e fiquei esperando amanhecer para que alguem me achasse. Então apareceram os pescadores donos da rede, puxaram e sentiram o peso de peixe grande, mas era eu que tava grudado nas boias da rede. Depois disso aprendi a nadar.

Depois do Marinheiro, veio o Boiadeiro Sebastião de Aparecida.

     Saudou a todos, com o "getuá pr´oceis". E contou: meu véio, ocê foi meu irmão mais novo, na minha última encarnação, então é ainda meu irmão de casa. Nossa familia vivia no Mato Grosso, arrendava terra dos nobres da época, no tempo do fim do império pro começo da republica. Então eu resolvi ir embora, e nosso pai não gostou e perguntou o que eu tinha pra fazer longe. Eu brinquei dizendo que ia ser matador. Fui-me embora e você como segundo mais velho ficou. Eu fui pro nordeste, lidar levando e cuidando de boi e depois entrei no cangaço. Tempos depois de eu me ir, os nobres tomaram as terras do nosso pai, ou seja, deixaram nossa familia sem sustento digno e ela caiu na pobreza. Nosso pai logo morreu e nossa mãe também, morreu de desgosto. Coisa que acontecia muito na época. O vosso pai nessa tua encarnação era filho de uma irmão nossa. Ele já maguaçava bem nessa época, era nosso sobrinho e você gostava muito dele,  talvez por isso voce resolveu vir como filho dele. Ele sempre foi um espírito muito bom, irresponsável com as coisas, mas de bom coração sempre e nunca pensou em trapacear com ninguém, nunca fez negócio pensando em arapucas para os outros. 
    Pois bem, fui pro nordeste e lá tinha esse tal de cangaço, que era uma maneira de fazer com que o povo tomasse as propriedades dos fazendeiros que exploram demais e se emancipassem. Nessas lutas com o cangaço e seu esforço para emancipar o povo, encontraram o Padre Cícero Romão Batista, o "Padim Ciço" endeusado pelo povo, mas fortemente ligado às famílias poderosas e coronéis e donos do poder. 


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