terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Boiadeiro, cangaço e padre cícero, invocação, lembranças nos encarnados

28 de Dezembro de 2014, domingfo

              Boiadeiro Sebastião de Aparecida:

---Jetoá pra  océis!  Parabéns pelo aniversário, meu irmão mais novo! Você já fez festa de aniversário na tua vida? -- perguntou a mim que fui seu irmão caçula na última reencarnação nos anos 1870.
--Nunca. 
--Teu pai nunca fez uma festa de aniversário procê?
-- Não, não havia esse costume na minha infância. Morávamos numa fazenda com poucas pessoas, lá tinha a nossa casa, a do avô, a casa do tio e a casinha do retireiro e mais ninguém.
--- Mas pro teu irmão ele fez? 
--- Também não!
--- É bão fazer uma festa de aniversário.
--- Não fizemos e também nunca senti falta, e nem me agrada mesmo de festa de aniversário!
--- O vosso pai tá presente, pitando um cigarro de palha, vossa mãe também tá presente, teu tio Iran também.
--- Agradecido pela presença, pela lembrança!
--- Vossa mãe comanda uma turma grande de boiadeiros e boiadeiras.
--- É surpresa saber, porque ela nunca se interessou por fazenda e suas coisas. Sempre foi pessoa da cidade.
--- Mas ela comanda uma boa equipe.
 --- Falei essa semana com o meu tio Josué, irmão de minha mãe!
---- OH que bão, foi irmão meu e teu na última encarnação, nosso irmão do meio. Esse teve uma vida sossegada! Não ficou rico, mas nunca lhe faltou dinheiro. Vive bem e tranquilo. Vosso filho mais novo é muito parecido com ele e da mesma maneira não vai sofrer falta de dinheiro. Esse nosso irmão gosta muito de fumar não é?
--- Sim, fuma bastante, sempre fumou! E disse que agora que já está velho não vai largar mais.
--- Interessante que uma das tarefas dele era largar de fumar nessa encarnação. Não conseguiu! E nem vai morrer disso também! O Iran fumava?
--- Fumava, mas organizava bem sua prática, era controlado.
--- Morreu de câncer, não foi de cigarro?
--- Não, foi câncer no pâncreas. Não foi no pulmão.
--- Bão trabalhador, equilibrado, paciente, generoso demais e de muita fé!

---E o povo da senhora, lá do nordeste? Tem uma tia, sua parente que foi escritora, como chama mesmo?
--- Chamava-se Rachel de Queiróz, foi prima distante, prima do meu avô. Trago o sobrenome Queiróz também. Mas nunca nos encontramos pessoalmente.
--- Essa Rachel de Queiróz foi a primeira mulher escritora a ingressar na Academia, como se chama?
--- Academia Brasileira de Letras.
--- Isso mesmo, ela foi a primeira mulher eleita lá. Ela conhecia de muito perto a vida dos cangaceiros, do povo do sertão. Escreveu o livro Lampião, que conta os desmandos desse cangaceiro, por exemplo, quando ele foi justiçar um homem que tinha roubado uma bodega. Pegou o cabra e disse: Você saia correndo daqui e a primeira árvore que você encontrar abraça ela bem forte! O homem pediu clemência, mas o capitão insistiu, senão ele ia morrer ali mesmo. Esse pobre saiu correndo e abraçou um pé de mandacaru, bem crescido. Você acha que ele sobreviveu? Os espinhos da planta se cravaram nele e a infecção fez o resto.
Lampião formou uma força, que tinha vaqueiros ou pistoleiros sem trabalho, e partiu pra tomar as fazendas e fazer justiça ao povo e distribuir. Fez o diabo por onde passou, uma vez invadiu uma sede e mandou que a família fizesse comida pro bando. As mulheres apavoradas, os maridos sujeitados, aquele monte de cabras pra comer, as pobres foram cozinhando a pulso e alguma coisa nem sempre não saía bem. Na hora de comer, um cabra reclamou: "essa comida tá sem sal". Lampião se aborreceu e ordenou: Encha um prato de sal pra atender o cabra, ele vai comer tudo! O cabra não era besta de desobedecer e comeu o prato de sal e sofreu os efeitos. Essa era a justiça do capitão e assim ainda trabalham os exus da linha de lampião.
 Os coronéis eram muito gananciosos, não conseguiam ver o perigo de um povo desocupado, sem trabalho. Os coronéis eram o povo do poder, mas não davam o mínimo necessário aos seu empregados, tratavam o povo como escravos. Fizeram o desemprego, pagavam salário de esmola e o pobre morria de tanto trabalhar, sem direito a nada na vida. Essa situação provocou a formação do cangaço. Eu entrei nele nos tempos finais da minha vida. Matei senhor de terra. Na minha conta foram seis. E no entanto esses senhores não se meteram a me cobrar do outro lado, porque eles deviam muito mais do que eu. Mas eu tive uma vida de muito trabalho a maior parte dela, só no fim da vida é que me abalei nessa guerra, por isso foi também considerado o que eu fiz de bom. Saí do Mato Grosso, e não sei por que não virei a cabeça do meu cavalo para o sul. Tive de escolher ir pro nordeste, e naquela época, boiadeiro no nordeste era condenado a morrer de fome ou entrar nessa guerra...
--- Você morreu de doença ou no cangaço?
--- Morri na guerra do cangaço, não durei muito tempo nela...Matei seis e nem por isso tive de fazer muito trabalho como exu...
Vocês bem poderiam colocar uma imagem do padrinho Cícero nesse altar... E uma falange muito grande, bonita e poderosa, não pelo padrinho que nem tem parte nela, mas o povo formou essa falange forte.
--- Então não foi o próprio Padre Cícero que formou essa falange de trabalho no plano espiritual, nem conduz? 
--- Não.
--- Então foi com a fé que as pessoas tinham no padim, pela veneração das pessoas é que os Guias espirituais construíram a falange? Eles aproveitaram o material de fé do povo e orientaram a força pelo nome do padim. Mas, na verdade, quem deu o nome não tem essa estrutura?
--- É isso mesmo! A fé é a força! Não importa se o objeto da fé não tenha todo o valor. Os guias de luz que querem ajudar vão se apresentar, identificando-se pelo nome daquele em quem o povo elegeu por mestre. No entanto, o padre certamente veio com missão de fazer a fé. Ele tinha carisma, palavra forte, personalidade forte, foram talentos dados para chamar a atenção do povo. Ele entregou o dom que lhe deu o céu. Mas envolveu-se muito com a política. Isso é bom de de saber, para compreender o quanto é grande e amoroso o poder de Deus, que confia aos filhos para levar grandes tesouros espirituais para a humanidade. É o que acontece com essa bela e fantástica falange do Padre Cícero e o quanto ela é poderosa. [1]
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Outra coisa que eu queria dizer é que quando o senhor fizer  a invocação de abertura (do evangelho no lar), não mencionar que  aqueles que vieram prejudicar que recebam a luz também. Seja apenas positivo convidando todos para partir o pão da vida, que deu o Salvador. Pois existem espíritos que vieram para prejudicar e ao ouvir isso, se fecham e não aproveitam. Lembre que espíritos vagando, e mesmo os exus, não lêm pensamentos, eles precisam ouvir a voz física. E vêm aqueles que foram trazidos por alguma invigilancia, pelas brechas abertas e passam a investigar a casa, e quando se deparam com o altar etc., ficam presos aqui até a reunião começar, e daí querem atrapalhar mesmo, e quando ouvem isso, acham que foram descobertos e ficam fechados. Existem também aqueles que não trabalham em nada, mas vêm para assistir, vêm sem intuito e também podem achar que estão se referindo a eles. Esses espíritos necessitados são muito burros e pensam tudo errado, portanto não dê motivo para eles. A gente explica tudo para eles, mas é bom não causar esse trabalho.

 Esse local é pequeno, mas espiritualmente é muito grande, e uma multidão comparece aqui para aprender.
--- Eu não falava assim na abertura e nem sei porque passei a falar isso! De fato isso não é positivo!

---Por ora é só, vossa mãe e outros que estavam aqui já se foram, têm coisas pra fazer, mas o tio Iram ainda está aqui ajudando, e eu já me vou, Parabéns mais uma vez e jetoá!!!  

P.S.: Eu fiz alguma pergunta, não me lembro qual foi e o Seu Sebastião respondeu:
 --- Já faz tempo que eu desencarnei, (por volta de 1930)e todos os que eu conheci na carne já morreram e já não tem lembrança de encarnados sobre mim. Imagine outros como o Alexandre, que desencarnaram no tempo das cruzadas...


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[1] = Padre Cícero Romão Batista (1844-1934) fez voto de castidade aos 12 anos (!!!???) foi ordenado em 1870 aos 26 anos. Por causa de um "milagre" ocorrido, uma beata ao tomar a hóstia esta se tornou em sangue, o Bispo não gostou, suspendeu as ordens em 1894, padim tinha 50 anos. Não pode mais celebrar missas, então entrou para a política, aliou-se aos coronéis da época, participou de uma revolta no Ceará para recuperar o poder à família Accioli, que fora tomado pelo coronel Franco Rabelo. Venceram a revolta, e daí em diante padim se estabelece na política, sendo nomeado prefeito de juazeiro, e até mesmo vice-governador do Ceará. Na política ficou até morrer, em 1934, aos 90 anos. (40 anos de política X 24 anos de ofício religioso). A prática católica tem forte ação política também. Seus bens foram doados para a Igreja Católica.



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