sábado, 27 de dezembro de 2014

P Reencontro no plano dos exus.

26 de Dezembro de 2014 (Sexta-feira)

          Resolvemos fazer uma reunião para o dia de Oxalá (que foi ontem, 25 de dezembro), e por ser esta a última sexta-feira do mês e também do ano, veio o exu "Seu Sete Chamas", exu de frente do médium, e que também já está mais pra direita do que para a esquerda, pois trabalha também na linha dos bahianos...
         A reunião foi aberta pelo Caboclo Mata Virgem, na sequência veio o "Bahiano Toninho" que jogou buzios para saber os orixás dos presentes e contou um pouco sobre sua ultima encarnação na Bahia, quando cresceu e viveu a vida toda trabalhando num terreiro de candomblé em Salvador, no início do século XX.
          Depois do bahiano, veio então Seu Sete Chamas.
          Participavam do trabalho um senhor bastante dinâmico e suas duas filhas adultas, uma das quais era autista. Embora ensimesmada, essa moça era uma presença de muita paz. E Seu Sete começou:
--- Laroye pra todos!! Hoje é dia de Oxalá e numa das minhas encarnações eu fui padre e fazia essa comemoração com muito carinho. Então meu véio, nos somos da mesma idade, pois eu morri em 1974, e você que ano nasceu? 
---Eu sou de 1935! respondeu seu Basílio.
Não foi difícil calcular que ele tem agora 80 anos, no entanto posso dizer que é jovem, aparência de 60 anos, boa saúde, andava perfeitamente e falava sobre todo assunto.

--- Na época da copa do tri, em 1970, você estava com quantos anos então?
--- 35 anos!
--- Eu também estava nessa faixa e morri em 1974, queimado dentro de um carro, por isso estou no ponto "Sete Chamas". E minha aparência é a de um esqueleto pegando fogo, vestindo um terno vermelho. Esse é o meu emblema.
--- Essa aparência é você que escolhe ou é imposta? perguntei.
--- Na verdade, hoje eu tenho uma aparência bem melhor, já evolui bastante, mas este é minha "roupa de trabalho", porque enquanto os mortos não se dão conta de que morreram, assistem seus próprios corpos apodrecerem, virarem esqueletos, despedaçarem-se sem sentir dores. Melhoram de aparência quando se esclarecem e seguem para tratamento e trabalho. Acordar gente morta nos seus corpos apodrecendo, para seguir em busca de saúde é um trabalho para os exus, e é trabalho duro. E ainda tem religião que doutrina as pessoas para ficarem paralisadas adormecidas no cadaver, esperando um dia de Juizo Final inventado, que é um atentado à bondade da mãe natureza com todos seus recursos.  
       Sempre dirigindo-se ao Sr Basílio, Se Sete continuou a conversa.
----Já falei que fui padre e tem uma história grande sobre essa vida, mas na última encarnação eu fui um ladrão de carros, e fui morto nessa situação pelos próprios companheiros. Nunca matei ninguém e nem sempre roubava com arma e procurava um jeito de abrir e ligar os carros. Uma vez resolvi usar uma arma, e esse roubo não deu certo.
     Sempre falando diretamente com Sr Basílio, que lhe foi apresentado hoje, o seu Sete desenrolou os fatos.
---- Peguei uma arma e abordei um motorista que estava a sair do seu carro e ordenei: sai logo desse carro e deixa a chave. O homem botou as mãos na cabeça e disse: pelo amor de Deus meu irmão, não faz isso comigo, comprei esse carro agora e fiquei sem recurso nenhum. Respondi: Isso não é da minha conta. Sai logo daí. O homem choromingava:  veja só ali minha casinha pobre, meu irmão, tem dó! Eu tava decidido: Nada disso, sai logo pra ninguém se machucar. Mas o homem não se conformava e apontava sua casinha pobre, mas eu nem olhava. Eu já não sabia mais o que fazer porque o tal não se abalava de dentro carro. E então apareceu na frente da casa a filha do homem, uma menina, que veio caminhando até o carro. Ele se apavorou:  meu Deus, minha filha vem aí, não faça mal pra gente, ela é uma criança... Guardei a arma no cinto e falei:  diz pra ela que sou um conhecido e ninguém se machuca . A menina chegou, perguntou porque o pai não entrava. Eu mesmo respondi: Sou conhecido do teu pai e foi encontro sem esperar, tava só conversando. Mas não vou mais atrapalhar...Muito bem amigo, lembranças aos amigos e felicidades pra família. E mais que depressa saí dali e caí no mundo. Essa tentativa com roubo a mão armada, tomou tempo, não deu certo e ainda me deixou no perigo de contra ataque! Hoje acho que isso não existe mais, mas no tempo em que vivi, ainda existia algum respeito, e jamais se maltratava alguem diante de seu filho. Hoje talvez a droga tenha acabado com o pouco que resta de dignidade em um ladrão.
Pois muito bem! Depois que morri, fui pro ponto dos Sete Chamas, e nos trabalhos que andava fazendo como exu, me vi em uma situação de perigo diante de outros exus, com as rivalidades e trabalhos mesmo de guardiões. A situação estava de difícil esclarecimento quando apareceu um Exu Caveira, conhecido dos outros exus e que falou: Esse aí eu conheço e é meu amigo. Tenho dívida com ele e então lembrou daquele roubo que não deu certo. Ele era o motorista que não roubei, em respeito à presença da sua filha. Ele disse que tinha dívida, porque eu não o roubei, mas que dívida é essa???? Ele era um exu Caveira, tinha sido ladrão também e então a situação se inverteu e ainda fiz um monte de amigos.
Aqui eu não tinha contado esse fato da minha vida. Contei hoje em homenagem ao senhor meu véio.
O Sr Basílio se alegrou com a estória e com a homenagem.
O trabalho transcorreu, o seu Sete pediu para falar em particular com a filha não autista do Sr Basílio, e poucos minutos depois eles foram embora.

Acompanhei Sr Basilio e suas duas filhas até a porta, despedimo-nos e voltei. Seu sete continuava com a conversa com os demais e então chamou minha atenção: 

-----Oh meu véio! Eu contei essa passagem hoje pra esse véio, porque o Exu Caveira da minha estória é o exato Exu Caveira desse véio. Por isso que ele ficou tão contente. A alegria dele foi uma manifestação da satisfação do Exu Caveira que é guardião dele e que hoje é meu amigo, e isso fez muito bem a nós dois. Não fazer um mal também é fazer o Bem, pelo menos para si mesmo.
Outro fato é que disse pra moça filha dele que aproveitasse o máximo a presença dele, porque ele não vai durar muito aqui.
     Comentei que pra quem já fez oitenta anos, mais dez anos aqui está de bom tamanho e ele tava com saúde boa. 
----Sei disso, mas eu precisava falar, em benefício dela mesmo para que não venha se sentir em dívida por não haver perdoado alguma coisa, caso o pai venha a morrer de repente, ...
Eu chamei tua atenção pra esse caso do Exu Caveira, meu véio, porque sei que voce logo vai escrever essa história lá no seu...não sei como chama...
No Blog...
Pois é...



 









3 comentários:

  1. Saravá !!! Boa tarde e uma excelente semana !!!
    Adorei o conteúdo do blog e gostaría de saber onde fica fisicamente a Casa de caridade Cavaleiro de Jorge. É na cidade do Rio de Janeiro ?

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  2. Poxa que coisa linda e ler e se sentir dentro da conversa.....e real e um fato .....amei

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