sábado, 15 de agosto de 2015

CIGANO GONZALES NA ESPIRITUALIDADE

 JULHO 2015

        Já disse que morri em México na Revolução. Estava apartado da comunidade gitana por grande desilusão amorosa. Na tradição cigana os pais negociam e determinam o casamento de seus filhos e filhas, sem que estes participem da escolha. O clã é sagrado e pode sim haver amor entre os esposos. Eu gostava muito de minha esposa, me vi fortemente apegado a ela, mas ela resolveu deixar a caravana e viver com um não gitano rico e levou com elas os filhos. Apegado e ferido pela dor do desprezo passei a odiar todos os ricos não gitanos, afastei-me da tribo também e passei a viver pelo mundo ora só, ora com outros ciganos também desgarrados. Nessas andanças, viajei pela Bolívia, onde tive filhos com duas irmãs índias aymaras. Isso mesmo, pois a esposa mesmo me mandou que atendesse sua irmã, pois isso não lhes incomodava como a nós outros. Saí de Argentina e passei a andar pela América do sul, Chile, Perú, pelos Andes, vendo o sol nascer por todos os lugares, até chegar a México. 
          Então em México era fatal o encontro com o povo pobre, com os revoltosos de Emiliano Zapata e Pancho Vila. A mim não interessava a revolução, apenas perguntei porque se revoltavam.Responderam que era por causa da terra, que era deles e estrangeiros ricos cercaram e não lhes permitiam entrar e viver da terra. Pronto, meu passado falou alto, lembrei dos não maus não gitanos ricos, e eles estavam ali a maltratar os pobres. Senti então o ímpeto e necessidade de entrar na revolução e me alistei. Deram a mim um fuzil e por um tempo fiz treinamento. 
         Chegou um dia, embarcamos num trem militar revolucionário e fomos para o campo da morte, para a frente de batalha. Os comandantes ordenaram que se abrissem as portas e os primeiros deveriam sair atirando no inimigo entrincheirado. Esses primeiros eram os estrangeiros, ciganos etc.. Saltei do trem atirando, engatilhei atirei novamente ao lado dos companheiros, atirei, engatilhei, atirava e avançava, e via o inimigo avançar também contra nós. Então olhei para trás e vi meu corpo caído e ensanguentado, bem como muitos outros corpos. 
           Eu já estava morto e muitos companheiros também e muitos inimigos também avançavam mas já em espírito, plasmando a batalha. Prosseguia o combate e o campo da morte se cobria de corpos e de espíritos fora destes. Teve uma hora que a batalha acabou. Os que venceram o combate ou fugiram ou foram embora e nós, espíritos, não sabíamos para onde ir, nem o que fazer. Sabia que estava morto e a tradição gitana dizia que deveria ser colocada uma moeda sobre o corpo do finado para que o espírito pagasse o barqueiro do rio da passagem. Não tinha nenhuma moeda e meu corpo também não portava nenhuma moeda. Tinha embarcado para a guerra desprevenido do dinheiro para o pagamento ao barqueiro das almas. Não sabendo o que fazer nem para onde ir, fiquei parado vendo se acontecia alguma coisa.  
          Então apareceu uma criança indígena, uma criança asteca mexicana, que colocou um moeda sobre cada corpo morto, aquela mesma moedinha asteca do filme dos piratas. Esse era o pagamento para o barqueiro. Fui até o meu corpo e peguei a moeda. E então a paisagem modificou-se....Atrás de nós e ao nosso lado ficou tudo escuro, e só à nossa frente existia um caminho. Não havia mais escolha. Até antes da morte tínhamos muitas escolhas, seja para não vir para guerra, seja para fugir dela, etc., mas de agora em diante, havia um só caminho a seguir. E fomos por ele.
          Avançamos por esse caminho e logo avistamos um grande rios de águas escuras e lá estava o barqueiro a nos aguardar com seu jeitão um tanto debochado. Aos brados chamou ao barco, que nada tínhamos que esperar em contemplações ali, recolheu os pagamentos e avisou que não se pusessem as mãos nas águas do rio, pois que eram povoadas de seres trevosos.
          Todos a bordo e o barco flutuou sobre as águas tétricas e alcançamos a outra margem onde nos aguardavam. Lá estavam meu pai e minha mãe, que já tinham partido havia muitos anos. Foi muito grande a alegria do reencontro. Palestramos e perguntei sobre a pessoa a quem eu tivera tanto apego e disseram que tudo tem seu tempo. Pensava eu que iria acompanhá-los quando alguns outros vieram nos buscar para irmos com eles em comitiva com um guia. Meu pai disse: --- Vá hijo, vá continuar sua jornada, não virá conosco por agora.

      Juntei-me ao grupo, que antes eramos inimigos em luta pela terra, mas agora não tinha mais terra, não havia mais disputas.
Tomamos caminho de uma floresta, uma mata grande e foi então que encontramos o Seu Mata Virgem, Seu Sete Chamas, esse pessoal dessa equipe espiritual que trabalha hoje aqui. Esse pessoal estava oferecendo trabalho. Íamos passando e eles perguntavam -- trabajo?, quierem trabajar? --- não diziam qual tipo de trabalho e nem se tínhamos qualificações. Só ofereciam trabalho e muitos eram os que ofereciam...
        Aos que aceitavam, encaminhavam aos colegas para prosseguir. Segui o grupo do Seu Mata Virgem, o mesmo desse hijo médium.
        Quis saber como poderia encontrar a pessoa pela qual tivera tanto apego em vida e disseram que não poderia encontrá-la ainda. Tinha de caminhar mais um pouco.
         Depois de muito trabalhar com seu Mata Virgem e equipe, compreendi melhor as verdades da vida e agradeci aquela que me provocou tanta dor, porque ela me colocou em contato direto para eu vencer um inimigo muito poderoso que se chama APEGO. Depois disso, pudemos nos encontrar naturalmente como grandes amigos e com todo respeito.

                                     Em Mendoza

         Gitano Gonzales, de nacionalidade argentina, por volta de 1910, vivia com seu clã a circular pelo país. Viajam e ficavam algum tempo em um local, trabalhavam, comerciavam e logo se deslocavam. O trabalho emblemático dos ciganos é ler a sorte, o que é feito somente pelas mulheres, ficando os homens como seguranças delas. A leitura da sorte pelas cartas não era só um meio angariar algum dinheiro. A situação era interpretada realmente e coisas eram adivinhadas, solucionadas e havia verdade nisso. Se ocorria de algum não gitano namorar ou constranger uma mulher cigana, esse era morto pelo clã. Uma vez aconteceu de a mãe de Gonzales, cigana muito formosa, ler as cartas para um senhor não cigano e de posses. Ao interpretar o que via, ela disse que esse senhor pretendia abandonar a família e fugir com uma cigana, a qual era ela mesma e disse também que nesses casos geralmente ocorrem mortes. O homem apavorou-se, sacou a pistola para matá-la, mas o marido que monitorava o trabalho um pouco atrás, estava com a mão para trás com o punhal na mão e ao ver a ameaça da arma, num relâmpago decepou a mão do assassino e ato contínuo, cravou-lhe o punhal o coração. Necessitava esse gesto extremo? Não sabíamos, mas aquele ferimento na mão do homem local era suficiente para destruir todo o clã cigano, pois que a sociedade nem os considerava cidadãos.
         O clã deveria agora urgir com os trabalhos de finalização dos restos do morto. Os ciganos sempre tinham uma fogueira acesa para incinerar seu lixo, mas nesse caso acenderam outra fogueira e nela queimaram o cadáver. Quando o sol saiu os ciganos já estavam longe e dispersos para dificultar a perseguição. Combinaram reencontrar-se na região de Mendoza, onde os produtores de vinho os protegiam, interessados nos seus bons serviços e conhecimento da vinicultura. . Esses ciganos conheciam a técnica apurada da produção de vinho e além disso, como são magos por tradição, aplicavam a magia para encantar o vinho que produziam. Além de muito bons técnicos, também não criavam problemas na produção e não cobravam muito caro seus trabalhos, dada a sua maneira simples de viver.  Lá ficaram o temo suficiente para as coisas se acalmarem, o tempo máximo que puderam suportar em um lugar só. Alguns clãs ciganos até se tornaram proprietários de vinícolas na região de Mendoza e existem até hoje. Ciganos enriquecem, constituem empreendimentos, mas nunca deixam de ser ciganos. Estão sempre a viajar e a encontrar os membros do clã.

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