terça-feira, 17 de setembro de 2013

P NOVAS DO "SEU TRANCA RUA DAS ALMAS"

16 DE SETEMBRO DE 2013

     À noite, o médium Marcelo chegou por volta das onze da noite e disse que necessitava cruzar uma caneta. Seu Tranca é quem devia fazer o cruzamento.
     
Veio Seu Tranca e falou sobre:
    Porque o médium anterior ficava no chão quando ele "incorporava". 
          Sobre o trabalho no cemitério
          Sobre o Chico Xavier ter ficado algum tempo no Umbral

TRATAMENTO AOS EXUS

          Quando o Seu Tranca se manifestava na pessoa do médium que era meu sogro, ele caia e ficava deitado de lado ou "de quatro" no chão, o trabalho todo. Mas no médium de agora ele fica em pé normalmente. Ele explicou que antigamente, nos candombles nos terreiros, os praticantes jogavam aguardente no chão de terra e os exu tinha de lamber o chão para beber. Era muito ruim, humilhante para os guardiões, mas eles trabalhavam assim mesmo, suportavam essa ginorância. Outra prática antiga consistia em amarrar o médium com arame farpado, pois eles achavam que o exu ia causar problemas no trabalho. Então o guia ficava constrangido e para não machucar o médium, ficava imóvel ou caido no chão. Muitos guardiões procuravam outros médiuns para trabalhar. Isso era pedagogia de alguns centros e os médiuns repetiam. 
     Passada essa fase, surgiu outro costume que era o contrário, com o exu exigindo deferências dos presente, que estes se levantassem ou se ajoelhassem quando ele passasse. Era a forra por um lado e por outro era também um excesso dos exus que tinham reencarnado como nobres, gostavam de ser reverenciados, e exigiam essas atenções, pelo menos enquanto estavam ali trabalhando, porque nos pontos onde estacionavam eram muito mal tratados. 
   No entanto não é necessário nenhum comportamento além do respeito. Nos dias de hoje é maior a compreensão para com os exus, é reconhecido o trabalho difícil deles e em muitas reuniões eles são admitidos mesmo quando são recebidos caboclos, pretos velhos etc.. e são recebidos com alegria, respeito e camaradagem. 
       
TRABALHOS NA KALUNGA

Lá pelas onze e meia da noite, seu tranca perguntou o nome dessa ave que canta à noite, e não é coruja. Respondi que era o "quero-quero". Então ele comentou sobre o mal estar que provoca esse canto, quando eles estão na kalunga à noite, às vezes com garôa ou chuva, abrindo uma campa para despertar um espírito que ainda está no corpo e que resiste em sair, e então repentinamente esse ave dá esse grito, quebra todo o ritmo do trabalho e dá uma sensação de enorme abandono e mal estar. 
         Então eu perguntei sobre esse trabalho, se era o tal trabalho dificil que falava o boiadeiro e ele contou mais ou menos assim: Os exus coveiros são os que abrem as covas, mas não falam com os mortos que dormem lá. Esses mortos são espíritos que não tiveram preocupação com a vida espiritual ou que acreditam no juizo final. Os exus das almas, ou exus encapados -- usam capas pretas -- são os que trabalham preferencialmente nesse ofício. Alguém intercede por um ente querido que ainda está ligado ao corpo no cemitério e os guardiões recebem a ordem de ir despertá-lo e conduzir para esclarecimento. Também há muitos casos que ficam esquecidos lá porque a própria família tem crenças na ressureição do juizo final. Mas a justiça divina não esquece ninguém e quando é chegado o tempo alguém se encarrega de resgatar esses "mortos" na morte. 
   O exu coveiro, abre a campa e os exus das almas conversam com o espírito estacionário. Esclarecem que ele já está morto, e disso quase todos sabem, mas não querem sair. Começam então uma doutrinação, até o ponto em que se eles ficam muito resistentes, são retirados à força e levados para trabalhar. São "escravizados", mas para seu próprio benefício porque não têm consciência da gravidade da sua situação. Se não forem retirados por um exu, é bem provável que sejam capturados por espíritos das trevas para trabalhos no mal e então ficam em pior situação.   Seu Tranca disse que já está muito cansado desse trabalho porque é tudo do mesmo jeito. A "lenga lenga" dos espíritos é a sempre a mesma. Todos fazem o mesmo tipo de argumentação e como um rito deve ser repetido dezenas de vezes e isso cansa muito. Por isso é necessário, ou pelo menos conveniente, alguma aguardente pra relaxar senão fica-se muito desgastado. "Por exemplo: a um espirito preso ao corpo morto há tempos, pergunta-se "por que voce matou teu filho? -- Ele responde: Porque ele era gay, mas eu nada tenho contra o homosexualismo -- Novamente se pergunta: Então por que você matou teu filho? --Ele torna a responder: porque ele era gay, mas eu não tenho nada contra o homosexualismo." E essa conversa é a mesma noite inteira...até que se leva o finado para trabalhos obrigatórios até melhorar seu estado mental. "Também pode ser ilustrado fazendo um paralelo com uma blitz da polícia. O policial pede os documentos e logo pergunta: "tem alguma coisa no carro? Se tiver diz logo porque vamos revistar e se for encontrada alguma coisa, a situação fica pior". Dessa maneira, se o cidadão não leva nada ilegal, ele responde convicto de que não leva nada de ilegal. Se ele leva alguma droga para uso próprio, mostra o pouco que leva e a coisa termina por aí. Mas quando a pessoa tem o que esconder, ele responde que não leva, mas responde gaguejando, ou tentando justificativas, e vai acabar sendo preso.  
             
            Falou também sobre as exumações, quando são retirados os ossos para dar lugar para outro finado na campa. Nessas exumações é obrigatória a ação dos exus, pois existem ainda muitos espíritos estacionados nos seus corpos. E na exumação é necessário remover o espírito, pois se este ali ficar, poderá em conflito energético com o outro que lá for depositado. 
       Mas não são todos que ficam assim tanto tempo. Assim ficam quase todos os que creem fortemente no juizo final e não admitem que a vida continua vibrante plena de atividade. Quase todos, porque dentre estes têm aqueles que são muito caridosos e isso ilumina e aquece o espírito. Estes, têm sentimentos bons e superior à crença errônea e na maioria das vêzes se desenfaixam logo dos seus corpos e nem ficam no túmulo.  
      
CHICO NO UMBRAL
     
   Minha esposa contou que no centro e ouviu dizer que a professora do curso básico disse que o Chico Xavier ficou quinze minutos no umbral, ou quinze dias se não ouviu bem. Então Seu Tranca Ruas comentou que isso é apenas o momento da passagem. Algum exu pode ter se oferecido acompanhá-lo por uns cinco metros até onde estariam todos os seres iluminados à sua espera. Ou então o Chico, bondoso e atencioso como sempre, parou para agradecer e saudar os exus que trabalharam com ele. Disse que é necessário dar um informação com intuito de elevar e não de amendrontar. Confesso que quando a patroa contou isso eu me senti muito mal, embora intimamente soubesse que certamente o Chico estaria irradiando sua luz ali. Mas me senti mal, talvez porque a instrução foi passada com enfase no sofrimento. O primeiro impacto foi pensar que se o Chico ficou quinze minutos no umbral então eu ficarei séculos lá, porque minha colaboração com a coletividade comparada com a do Chico é nenhuma. Mas quando o Seu Tranca comentou sobre o fato, ele o fez com tanto bom humor e certeza, que iluminou completamente o momento. Por aí podemos ver o contraste: Uma instrutora kardecista em plena atividade de ensinar emprega um tom opressivo, e a mesma informação é transmitida por um "exu", de uma maneira bem humorada e positiva. 



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