quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Boiadeiro Irmãos Revolução

Julho de 2015

O boiadeiro Sebastião de Aparecida veio para contar um pouco da nossa história

Jetoá pra todos!
Vamos nos lembrar dos tempos em que vivemos juntos encarnado. Vivemos no Mato Grosso no tempo da Guerra do Paraguai. Nosso pai era lá um posseiro, ou a quem os grandes senhores permitiam que ocupasse alguma terra por lá. Fomos irmãos, eu era o mais velho, o hoje seu tio Josué era o irmão do meio e vosmecê era o irmão mais novo e tinha mais uma irmã.
       Então começou essa guerra, a Guerra do Paraguai e eles invadiram o Mato Grosso em primeiro lugar, lá em Corumbá e tomaram tudo mesmo, sem resistência, porque os brasileiros eram poucos ali e nenhuma força militar existia. O Paraguai era já uma república, entraram lá com um exército de gente que sabia que estava em guerra e sabia porque estavam guerreando. 

          Pois muito bem, depois desse ataque todo apareceu por lá uma força do império do Brasil, arrebanhando "voluntários" para a guerra, pois esse era o único meio de recrutar do império. Chegavam para um pai de família e pediam que mandasse seus filhos para a guerra, e pagavam um dinheiro para esse pai para evitar revoltas, porque os "voluntários" eram na prática constrangidos a ir para a guerra. Então os pais recebiam a indenização e diziam para os filhos, muitos deles garotos ainda, que fossem e na primeira oportunidade fugissem pro mato. E foi isso que disse nosso pai pra nós. Eu tinha 15 anos, você tinha 11, o outro tinha lá pelos 13. Nós não éramos brancos, tinha mistura de negro porque nosso pai era desses portugueses que vieram deportados para o Brasil e aqui teve filhos com escravas negras...

        Aquele lugar era muito pantanoso, difícil de guerrear lá. Pegamos nosso mosquetão, o uniforme, algumas moedas e nos mandaram pra se juntar com a força. Fomos juntamos e logo sumimos no mato. O uniforme era calça branca e camisa azul marinho, e a gente tava no meio do verde da mata, qualquer um via. 

Acima, o Enfield Pattern 1853, denominado no Brasil de Enfield 1858, primeiramente em calibre .577 (14,6mm) e depois convertido para pontas Minié de 14,8mm. 

Também os donos  de escravos, cediam escravos para a guerra, e os que sobrevivessem seriam alforriados. 
  
       Teve uma batalha que eu subi em cima de uma árvore e fiquei lá em cima bastante tempo enquanto o tiroteio rasgava. Sofri porque tinha fome, tinha necessidade e não podia descer de lá e ainda tinha o risco de alguem me ver lá e me abater.  Outra vêz também, ja a tardinha subi numa árvore e lá no alto ci que tinha mais três escondidos. Os negros tiravam a roupara para subir nas árvores e não ser visto, por causa da calça branca. Também por isso o paraguaios os chamavam de macacos. Essa calça branca denunciava muito, então muitos soldados e até mesmo oficiais entravam na lama dos pântanos com ela e enchiam de crostas de barro para poder camuflar.
Baioneta usada pelas tropas
         Pois então, foi essa a primeira encarnação tua que você não matou índio. Você era um menino ainda, até apontava o mosquetão mas nunca atirou num paraguaio, que eram quse todos índios guaranís. Também os paraguaios não davam importância a você como soldado menino,  os que te viram não perseguiram e nem levaram a sério. De alguma maneira você teve oportunidade de abater um guarani e não fez e isso lhe rendeu créditos espirituais. Você também morreu muito moço, com 25 anos, em um bar, por três tiros no peito e nem teve enterro, foi enterrado como indigente. Talvez foi por mulher. Mas também nos bares na época morriam muita gente, todo mundo andava armado. Eu também fui enterrado assim, mas muito tempo depois no nordeste. Fui morto por um  tiro nas costas na cama de uma moça que não contou que tinha namorado. Não reclamei. 
         Você não matou nessa encarnação, mas eu matei muita gente, e nem por isso fui muito cobrado do outro lado, porque os que eu matei não prestavam e tinham muitas contas a acertar, então não quiseram aparecer pra cobrar ou não puderam fazer isso. Nunca matei gente boa, mas gente ruim matei muitos.

a guerra me ajudou muito, foi onde aprendi a atirar, a manejar armas e foi esse meu ofício dalí  pra diante. Boiadeiro, capataz, cangaceiro, etc..

Depois dessa guerra acabar e as coisas voltarem ao normal eu passei a andar livremente, com a fama de ter lutado na guerra. Nunca disse que fugia das batalhas e até inventava que tinha sido oficial e isso abriu caminho pra muito trabalho. Nunca entendi o porque da guerra, mas no pouco tempo que fiquei nela aprendi muito. Só o fato de saber manusear o mosquetão e alguém saber que eu já tinha matado gente, era garantia de respeito e de trabalho também.

sábado, 15 de agosto de 2015

CIGANO GONZALES NA ESPIRITUALIDADE

 JULHO 2015

        Já disse que morri em México na Revolução. Estava apartado da comunidade gitana por grande desilusão amorosa. Na tradição cigana os pais negociam e determinam o casamento de seus filhos e filhas, sem que estes participem da escolha. O clã é sagrado e pode sim haver amor entre os esposos. Eu gostava muito de minha esposa, me vi fortemente apegado a ela, mas ela resolveu deixar a caravana e viver com um não gitano rico e levou com elas os filhos. Apegado e ferido pela dor do desprezo passei a odiar todos os ricos não gitanos, afastei-me da tribo também e passei a viver pelo mundo ora só, ora com outros ciganos também desgarrados. Nessas andanças, viajei pela Bolívia, onde tive filhos com duas irmãs índias aymaras. Isso mesmo, pois a esposa mesmo me mandou que atendesse sua irmã, pois isso não lhes incomodava como a nós outros. Saí de Argentina e passei a andar pela América do sul, Chile, Perú, pelos Andes, vendo o sol nascer por todos os lugares, até chegar a México. 
          Então em México era fatal o encontro com o povo pobre, com os revoltosos de Emiliano Zapata e Pancho Vila. A mim não interessava a revolução, apenas perguntei porque se revoltavam.Responderam que era por causa da terra, que era deles e estrangeiros ricos cercaram e não lhes permitiam entrar e viver da terra. Pronto, meu passado falou alto, lembrei dos não maus não gitanos ricos, e eles estavam ali a maltratar os pobres. Senti então o ímpeto e necessidade de entrar na revolução e me alistei. Deram a mim um fuzil e por um tempo fiz treinamento. 
         Chegou um dia, embarcamos num trem militar revolucionário e fomos para o campo da morte, para a frente de batalha. Os comandantes ordenaram que se abrissem as portas e os primeiros deveriam sair atirando no inimigo entrincheirado. Esses primeiros eram os estrangeiros, ciganos etc.. Saltei do trem atirando, engatilhei atirei novamente ao lado dos companheiros, atirei, engatilhei, atirava e avançava, e via o inimigo avançar também contra nós. Então olhei para trás e vi meu corpo caído e ensanguentado, bem como muitos outros corpos. 
           Eu já estava morto e muitos companheiros também e muitos inimigos também avançavam mas já em espírito, plasmando a batalha. Prosseguia o combate e o campo da morte se cobria de corpos e de espíritos fora destes. Teve uma hora que a batalha acabou. Os que venceram o combate ou fugiram ou foram embora e nós, espíritos, não sabíamos para onde ir, nem o que fazer. Sabia que estava morto e a tradição gitana dizia que deveria ser colocada uma moeda sobre o corpo do finado para que o espírito pagasse o barqueiro do rio da passagem. Não tinha nenhuma moeda e meu corpo também não portava nenhuma moeda. Tinha embarcado para a guerra desprevenido do dinheiro para o pagamento ao barqueiro das almas. Não sabendo o que fazer nem para onde ir, fiquei parado vendo se acontecia alguma coisa.  
          Então apareceu uma criança indígena, uma criança asteca mexicana, que colocou um moeda sobre cada corpo morto, aquela mesma moedinha asteca do filme dos piratas. Esse era o pagamento para o barqueiro. Fui até o meu corpo e peguei a moeda. E então a paisagem modificou-se....Atrás de nós e ao nosso lado ficou tudo escuro, e só à nossa frente existia um caminho. Não havia mais escolha. Até antes da morte tínhamos muitas escolhas, seja para não vir para guerra, seja para fugir dela, etc., mas de agora em diante, havia um só caminho a seguir. E fomos por ele.
          Avançamos por esse caminho e logo avistamos um grande rios de águas escuras e lá estava o barqueiro a nos aguardar com seu jeitão um tanto debochado. Aos brados chamou ao barco, que nada tínhamos que esperar em contemplações ali, recolheu os pagamentos e avisou que não se pusessem as mãos nas águas do rio, pois que eram povoadas de seres trevosos.
          Todos a bordo e o barco flutuou sobre as águas tétricas e alcançamos a outra margem onde nos aguardavam. Lá estavam meu pai e minha mãe, que já tinham partido havia muitos anos. Foi muito grande a alegria do reencontro. Palestramos e perguntei sobre a pessoa a quem eu tivera tanto apego e disseram que tudo tem seu tempo. Pensava eu que iria acompanhá-los quando alguns outros vieram nos buscar para irmos com eles em comitiva com um guia. Meu pai disse: --- Vá hijo, vá continuar sua jornada, não virá conosco por agora.

      Juntei-me ao grupo, que antes eramos inimigos em luta pela terra, mas agora não tinha mais terra, não havia mais disputas.
Tomamos caminho de uma floresta, uma mata grande e foi então que encontramos o Seu Mata Virgem, Seu Sete Chamas, esse pessoal dessa equipe espiritual que trabalha hoje aqui. Esse pessoal estava oferecendo trabalho. Íamos passando e eles perguntavam -- trabajo?, quierem trabajar? --- não diziam qual tipo de trabalho e nem se tínhamos qualificações. Só ofereciam trabalho e muitos eram os que ofereciam...
        Aos que aceitavam, encaminhavam aos colegas para prosseguir. Segui o grupo do Seu Mata Virgem, o mesmo desse hijo médium.
        Quis saber como poderia encontrar a pessoa pela qual tivera tanto apego em vida e disseram que não poderia encontrá-la ainda. Tinha de caminhar mais um pouco.
         Depois de muito trabalhar com seu Mata Virgem e equipe, compreendi melhor as verdades da vida e agradeci aquela que me provocou tanta dor, porque ela me colocou em contato direto para eu vencer um inimigo muito poderoso que se chama APEGO. Depois disso, pudemos nos encontrar naturalmente como grandes amigos e com todo respeito.

                                     Em Mendoza

         Gitano Gonzales, de nacionalidade argentina, por volta de 1910, vivia com seu clã a circular pelo país. Viajam e ficavam algum tempo em um local, trabalhavam, comerciavam e logo se deslocavam. O trabalho emblemático dos ciganos é ler a sorte, o que é feito somente pelas mulheres, ficando os homens como seguranças delas. A leitura da sorte pelas cartas não era só um meio angariar algum dinheiro. A situação era interpretada realmente e coisas eram adivinhadas, solucionadas e havia verdade nisso. Se ocorria de algum não gitano namorar ou constranger uma mulher cigana, esse era morto pelo clã. Uma vez aconteceu de a mãe de Gonzales, cigana muito formosa, ler as cartas para um senhor não cigano e de posses. Ao interpretar o que via, ela disse que esse senhor pretendia abandonar a família e fugir com uma cigana, a qual era ela mesma e disse também que nesses casos geralmente ocorrem mortes. O homem apavorou-se, sacou a pistola para matá-la, mas o marido que monitorava o trabalho um pouco atrás, estava com a mão para trás com o punhal na mão e ao ver a ameaça da arma, num relâmpago decepou a mão do assassino e ato contínuo, cravou-lhe o punhal o coração. Necessitava esse gesto extremo? Não sabíamos, mas aquele ferimento na mão do homem local era suficiente para destruir todo o clã cigano, pois que a sociedade nem os considerava cidadãos.
         O clã deveria agora urgir com os trabalhos de finalização dos restos do morto. Os ciganos sempre tinham uma fogueira acesa para incinerar seu lixo, mas nesse caso acenderam outra fogueira e nela queimaram o cadáver. Quando o sol saiu os ciganos já estavam longe e dispersos para dificultar a perseguição. Combinaram reencontrar-se na região de Mendoza, onde os produtores de vinho os protegiam, interessados nos seus bons serviços e conhecimento da vinicultura. . Esses ciganos conheciam a técnica apurada da produção de vinho e além disso, como são magos por tradição, aplicavam a magia para encantar o vinho que produziam. Além de muito bons técnicos, também não criavam problemas na produção e não cobravam muito caro seus trabalhos, dada a sua maneira simples de viver.  Lá ficaram o temo suficiente para as coisas se acalmarem, o tempo máximo que puderam suportar em um lugar só. Alguns clãs ciganos até se tornaram proprietários de vinícolas na região de Mendoza e existem até hoje. Ciganos enriquecem, constituem empreendimentos, mas nunca deixam de ser ciganos. Estão sempre a viajar e a encontrar os membros do clã.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

PRIMEIRA NAÇÃO DE OXALÁ

     História de um Erê (pelo Bahiano Toninho)

     -----Saravá!
     ----- Saravá, meu véio, vim trazer mais uma história, quem você delas faça um livro! Muitas ainda vamos trazer e a história de hoje diz respeito a um amigo espiritual dessa roda, desse trabalho, dessa gira. História curta, mas boa de se saber!
        Você sabe que antigamente se matavam as crianças que nasciam defeituosas e esse costume ainda hoje existe entre os índios desta terra. Na África, onde vivi há séculos passados no lugar em que hoje é a Nigéria, isso era muito sério e existia mesmo. Na minha tribo, porque aqui se diz tribo, mas lá nós dizemos nação, não vi isto acontecer, mas sabia que existia e era assunto sério. A minha nação era regida por Iemanjá, Orixá da Fertilidade, e se acontecia de nascer alguém aleijado, matava-se junto a família, principalmente a mãe, por estar ela em falta com Iemanjá, por não ter cuidado direito de um filho da mãe Iemanjá. Também se tinha medo de pessoas com defeitos físicos, diziam que poderiam ser bruxos ou pessoas punidas por Deus.  A historia que vou contar aconteceu em uma nação la pelas terras da Etiópia, há mais de mil anos e nesse tempo de Cristo, de Oxalá.
     Um casal teve um filho nascido com um defeito físico, sem uma perna, sem o toco da perna do joelho pra baixo. Esse menino estava condenado e não havia sentimento de compaixão, pois o pai mesmo entregava o filho para o chefe da tribo para o sacrifício. Mas esse pai foi especial e atendeu ao sentimento da mulher para que não entregasse o menino para a morte. Sentiu compaixão pela companheira e guardou silêncio sobre o nascimento. 
      Passava o tempo e o povo, que já sabia da gravidez, começou a perguntar se já nascera o menino e coisa e tal ao que ele respondia que sim, mas que era melhor que ficasse quieto em casa, que a mãe não queria ainda apresentar o menino. Com a convivência o pai foi se afeiçoando ao filho, coisa que não é apropriada a um guerreiro nessas circunstâncias. A pressão da comunidade aumentava e o chefe então passou a exigir que lhe apresentassem o filho. Diante dessa insistência, ele revestiu o menino com palhas da costa, tal qual Omulú, orixá ou divindade das pestes que tem o rosto e todo o corpo escondido debaixo de palhas e não se vê nem suas pernas quando anda. Levou o chefe e mostrou o menino vestido assim e inventou uma estória de que esse Orixá exigiu que fosse feito assim para trazer boa sorte à tribo. Avisava que não se lhe retirassem as palhas pois poderia a peste recair sobre o povo e que ele teria de usar essas palhas por muito tempo e se manter afastado do contato com a comunidade. Pelo sim, pelo não, o chefe e seus feiticeiros ficaram convencidos. 
    Sete anos passaram-se e o menino não saia de dentro da casa, mas passou a perguntar o por que de não poder sair da casa e insistia que queria conhecer seu povo também. O pai dizia que não, que esperasse mais algumas luas para sair e ia levando o tempo porque ele sabia que não se sacrificava depois dos sete anos e queria completar passar todas as luas para não ter dúvida nenhuma. No entanto a curiosidade foi maior e uma noite o menino aproveitou o sono dos pais e saiu sozinho a andar com sua muleta pela aldeia. Foi caminhando pra um lado e para outro e logo encontrou alguém, que se assustou de ver um aleijado com aquela idade a andar por ali, mas considerou que poderia ter sido acidentado, pois perder a perna em acidente não era considerado defeito e não se sacrificava. Aproximou-se e passou a conversar com o menino e assuntar-lhe a origem e assim descobriu de quem ele era filho e se lembrou das artimanhas do seu pai para não mostrá-lo para o povo. Disse então ao garoto que esperasse ali, que ele iria trazer alguem que queria muito conversar com ele. Logo voltou com o chefe feiticeiro da tribo, que lhe perguntou a origem e constatando que fora ludibriado pelo seu pai, para salvar-lhe a vida e então matou o garoto.
        No meio da noite o pai acorda e dá conta do sumiço do filho e sai a procurar. Não demora encontrar com o tal sentinela que lhe diz: --você quer teu filho aleijado? Olha ele aqui! --- e lhe apresenta a cabeça do garoto, contando que o feiticeiro chefe o tinha morto. O pai sabia que usariam seu corpo em magia para tornar aleijados os inimigos. O pai, um homem forte, ferido pela dor, agarrou o sentinela e exigiu que lhe levasse ao feiticeiro e lá chegando matou os dois e resgatou o corpo do filho.
       Voltou para casa, pegou a mulher e fugiram da aldeia. Não faziam mais parte daquele povo. Quem tentou impedir a fuga, foi morto ou ferido, tal a determinação desse pai. Avisou a todos, no meio daquela noite que qualquer um que ele visse daquela nação ele ia matar, então que não o seguissem, porque ele iria pra longe, não mandaria noticias e nem queria noticias dessa nação. O povo, sem o feiticeiro chefe, sem o sentinela, diante daquele guerreiro negro grande e forte, não ousou arriscar a vida e assim  ele e mulher sumiram na escuridão.
        Assim que amanheceu, deliberaram e acharam melhor não fazer perseguição pois o guerreiro já tinha matado alguns e com a raiva que estava, mataria tantos quantos pudesse. Observaram que ele tinha levado o corpo do filho e se ele resolvesse fazer magia contra eles, usando o corpo do próprio filho, teria muito mais força do que qualquer feiticeiro, e poderia aleijar a tribo inteira. Era melhor não provocar, e esperar para que ele sumisse pra bem longe!
        Então esse pai caminhou rápido, levando a mulher e o corpo do filho para bem longe, onde o enterrou e declarou seu propósito  
de fundar uma nação muito especial em sua homenagem.
        Caminharam sem parar e dois dias depois viram fugir deles uma mulher com uma criança albina. Disseram que não temesse e que poderia juntar-se a eles. Sabiam que ela fugia porque o povo lhe roubaria a filho albino para uso em magia negra. Existia a prática do canibalismo, mas eles só comiam carne de gente forte, perfeita, para sugar a energia do corpo forte. Não comiam os corpos de deficientes, mas os albinos eram um caso especia porque acreditavam que era a carne de Oxalá e que dava sorte, riqueza e poder. Albinos eram caçados e partes de seus corpos eram usadas pelos feiticeiros em operações de magia negra, de enriquecimento. Existia um comércio altamente lucrativo de corpos de albinos, e havia caçadores ávidos deles. 
          Juntou-se a eles essa mulher e o filho, e logo ficaram sabendo onde tinham outras mães de crianças albinas fugidas e foram se juntando a elas. Também mães de crianças com defeitos físicos, jovens deficientes fugitivos isolados, e não demorou formaram uma nação, formaram a primeira Nação de Oxalá e isso é fato e não lenda e essa nação se estabeleceu, sobreviveu e ainda existem remanescentes deles atualmente.
          Oxalá é o protetor de todos com defeitos físicos e albinos, sofredores etc. Oxalá é sincretizado hoje com JESUS. A lenda de Oxalá em várias versões é a seguinte: Oxalá é o primeiro filho de Olorum (O Senhor do Céu), que é o Deus único, criador absoluto e origem de tudo e todos. Oxalá foi incumbido por Olorum de criar os seres humanos. Ele os criava, moldando os corpos do lôdo do fundo da lagoa de Nanã, a mãe terra, e depois os deixando a assar no forno. Quando estivessem pretos e bem rígidos, como ocorrem com os tijolos muito queimados, ele lhes soprava o alento da vida e eles se tornavam seres humanos. Dessa forma eram os negros os seres perfeitos da criação. Mas aconteceu que uma vez, o orixá Exu, melindrado por Oxalá se esquecer de lhe fazer oferendas, o enganou e o fez ficar com muita sede e lhe deu vinho alcoólico de palma para matar a sede. Oxalá bebeu além da conta e embriagou-se. Passou a trabalhar ébrio e descontrolou-se no tempo de queima do barro dos corpos, e retirou alguns ainda brancos, outros ainda moles e deformados e pela força de Olorum lhes soprou a vida animando esses corpos defeituosos. Assim que recuperou a lucidez, condoeu-se muito da situação daqueles corpos animados sem estar completamente enrigecidos e então tomou a si o encargo de proteger todos esses em toda a duração de suas vidas, de maneira muito especial!
      Por isso essa nação ficou sendo chamada a Nação de Oxalá!
      -----Já sabe de qual entidade que trabalha aqui, com este médium e com vocês, eu estou falando? 
         ----- não...
         ----- Essa é a história do Erê Tiaguinho, esse menino bem pretinho, que fala com vocês e sabe onde estão todos os seus parentes e amigos que já morreram e voltaram para o mundo dos espíritos. Ele vem nessa energia de criança, mas é um ser muito grande! E também foi muito guerreiro, matou gente também nas guerras etc..Mas é maravilhosamente bom e pleno de luz.
            E não foi apenas essa Nação de Oxalá que ele fundou na África! Ele também conduziu uma cruzada de crianças, antes daquela documentada pela história, eram crianças aleijadas também, abandonadas pelas famílias. Foram todas dizimadas ou escravizadas ao longo do caminho.
           Depois desses eventos, resolveu que nas suas reencarnações não mais se tornaria adulta. Ele viria encarnar e antes dos sete anos ele morreria. Ele faz isso para ajudar os pais, cujos filhos morrem crianças, porque eles ainda tinham dívidas a resgatar por haverem matado crianças e não se arrependido ainda. Precisam sentir a dor da perda para avançar. Dessa forma ele reencarna nessas famílias, e por volta dos sete anos, sem nenhuma doença, sem nenhuma explicação, ele morre. Ou então fica doente sem cura e morre criança. E essa impotência e dor que sentem os pais lhes toca o coração e os faz buscar o caminho de luz, da fé, de Deus, da Paz, do Amor, da Verdadeira Vida.
        Tiaguinho já foi também pai e filho deste moço médium que fala por mim agora. Este moço médium também matou criança em passado muito longiquo...E o Tiaguinho uma vez foi pai dele, morreu e voltou depois como filho dele, ou seja, o neto era a reencarnação do avô! Veio e morreu com sete anos...  
      --- E essa encarnação africana do Tiaguinho ocorreu antes das cruzadas? Há mais de mil anos?
     ---- Aconteceu antes das cruzadas, mas aconteceu depois da vinda de Jesus, porque quando Jesus veio, a aura do planeta se limpou muito! Ele encarnou na Judeia, mas muitos outros espíritos da elevada esfera dele encarnaram em muitos lugares do planeta para levar a sua mensagem em outras linguagens, em outras culturas e tradições, mas com seu espírito de Verdade e de fé. Muitos encarnaram na África, outros no Oriente, outros entre os índios, outros na China. A palavra e o espírito de vida foi levada para toda a Terra, de muitas maneiras, porque Deus é o Ser Total e não desampara ninguém e dá oportunidade a todos, seja qual for a cultura, religião ou tradição!


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

EXU OKELELÊ VEIO EM ESPÍRITO PARA O BRASIL E CONTA SOBRE ELE, VO BIZÚ, QUINZINHO, SETE CHAMAS NA SENZALA

18 de janeiro de 2015
Com a palavra BAHIANO TONINHO

 Eu venho contar mais um pouco da história de nossos espíritos, porque o Vô Bizu  disse que tem muito o que fazer e deixou para eu relembrar os casos.

Já te contei que estive encarnado na África conhecido por Okelelê, no litoral, e conhecia magia. E por viver a praticar magias sempre interesseiras a mim ou amigos na minha tribo, desencarnei e estive a sofrer nos mundos escuros e de dor. Depois de muito sofrimento fui atraído pelos guardiões exus e fui trazido em espirito para trabalhar numa senzala do Brasil, na Bahia. Depois disso não mais voltei par a Africa.

No trafico de escravos os britânicos foram os primeiros. Eles mandaram forças para a África, e logo constataram que aquele enorme continente abrigava uma gente que apesar de todos serem negros, eles mesmos se diferenciavam entre si, seja por tipo étnico ou simplesmente por tribos, por enfeites etc., e nutriam ódios tribais que jamais terminavam. Não conheciam o pecado, mas também não conheciam a misericordia. Um negro zulu, deveria eliminar todo negro que não fosse zulú, matando-o ou prendendo-o e vendendo como escravo a quem o comprasse e os ocidentais eram compradores ávidos.
        Muito contribuiu para sujeitar completamente os africanos ao poder britânico, o fuzil de retrocarga, inventado no século XVIII. Na África os brancos eram poucos e os mosquetes e armas de carregar pelo cano, não impediam que o grande numero de inimigos negros dominasse o pequeno numero de brancos. Mas com a possibilidade oferecida pelo fuzil de retrocarga quando o soldado rapidamente introduzia um cartucho completo pela culatra da arma, podendo dar até sete tiros por minuto, os africanos perderam a guerra.
        Se não haviam para comprar negros capturados pelos seus inimigos também negros, as armas de fogo eram recurso seguro de provimento de escravos aos civilizados.
         Então foram traficados um sem numero de negros capturados de todas as etnias. Esse contingente era embarcado nos navios negreiros, todos juntos, inimigos, adversários, etc., todas as etnias lado a lado e o resultado era devastador. Os aprisionados guerreavam entre si, inimigos naturais que eram na África. Eram grandes as baixas nessas viagens, mais da metade morria. Os cativos só foram dar-se conta de que deveriam se unir quando desembarcavam em terra estranha, tendo um mar a separa-los de seu continente.  Daí surgiu o candomblé no Brasil, unindo os Orixás de todas a tribos e ressignificando sua cultura. Os ódios étnicos e tribais não tinham razão de ser entre escravos. Não mais existiam tribos.
         Dessa forma veio escravizado para o Brasil no século VXIII  o hoje Vô Bizu, moço ainda, que morava onde hoje é a Nigéria, no interior enquanto eu morava no litoral tendo Yemanja como Orixá. Bizu foi vendido para um senhor de engenho na Bahia, e na senzala conheceu o Quinzinho, o varão reprodutor da senzala. Aqui continuaram seu culto africano, bateram os tambores, cantaram e vieram atende-los os seus espíritos ancestrais, exus etc. etc. Esses guardiões exus trouxeram para trabalhar na senzala outros espíritos da África e um deles, eu, o feiticeiro  morto africano  Okelelê, que ali ficava a fazer quase nada além de olhar, mas me preparava para exercer como exu para o Bizú. Não vim da África como escravo. Vim trabalhar com os escravos negros, nunca fui escravo, pois quando reencarnei em Salvador, já existia a Lei do Ventre Livre.
       Bizu chegou na senzala e foi apresentado ao Quinzinho, que era o Pai da senzala, o reprodutor e pai, o conselheiro e sacerdote, o mago e protetor. Então eles tiveram que inventar a África brasileira. Quinzinho veio já adulto da África, conhecia muito a magia africana. Bizu veio rapazote e também se dedicava à magia,  não tinha o desenvolvimento, mas já tinha a vidência. Quinzinho passou a desenvolver Bizu nas evocações, nos ritos ancestrais. Negros de várias nações ali estavam sujeitados e estavam fundando um novo mundo, uma nova religião, uma maneira de viver diferente da África, não tinham direito a nada, mas também não deveria haver ódios tribais. Ainda havia algum ódio. O capitão do mato era negro mau, egoísta, sádico, corrupto, e muitas vezes era originário de tribo diferente da senzala e ainda alimentava ódio tribal.
     Nesse trabalho espiritual, Bizu tanto praticou, tanto fez que um dia ele viu minha figura. Fugiu apavorado, dizendo que via um demônio muito feio. Eu devia mesmo ser muito feio e fedido também porque quando cheguei acompanhando a falange dos exus, os mestres da senzala anunciaram que tinha chegado um ancestral para trabalhar ali e que fedia muito. Pois bem, Bizu me viu e saiu em fuga dizendo a Quinzinho que um demônio o ameaçava. Quinzinho falou comigo, e fomos apresentados para trabalhar conjuntamente.
       Quinzinho era muito amado na senzala, muito respeitado, mas tinha inimigos também. Havia um escravo que tinha muito ciúme da posição de Quinzinho, de como ele influenciava, de ele ser o reprodutor etc.. e resolveu mata-lo. Pediu emprestada ao capitão do mato sua garrucha, que este depois disse que ele lha roubara, e diante do povo reunido com Quinzinho, pretextando uma gravidez que este infundira à sua mulher dez anos antes, disparou contra Quinzinho. O povo reagiu e de imediato abateu o assassino. A senzala estava sem pai agora e o mais próximo do Quinzinho era o Bizu. A senzala alvoroçada precisava saber o que fazer. Este era o momento de se revoltar, e agora eles tinham uma arma. Iam fazer a revolta agora, e Bizu repentinamente elevado a pai da senzala deveria dar a ordem. Precisava pensar rápido e Bizu não pestanejou. Essa arma já trouxe morte para nós e não nos vai trazer liberdade. Devolva-se já ao seu dono, o capitão do mato. O capitão desculpou-se dizendo que o assassino lhe roubara a arma e as coisas continuaram, agora com Bizu como o pai da senzala e como era negro forte e saudável, passou a ser o varão reprodutor e isto lhe era muito constrangedor.
      Eu sempre aparecia ao Bizu a lhe inspirar revolta, guerra contra o senhor, fuga, etc., mas Bizu não se abalava. ele sabia dos riscos e tinha também sabedoria ancestral.
      O Sinhô tinha muitos filhos, e deixou um deles para ser o novo Sinhô. Esse moço era totalmente sem de respeito qualquer. Logo que assumiu os mandos, entrou a senzala e violentou um escrava, e fez isso diante de todos, para humilhar Bizú, com o capanga lhe guardando dizia, o que é que você pode fazer??? E Bizú manteve a firmeza pra não por tudo a perder. Teve de sofrer calado a humilhação a todos.
      Mas não ficava nisso, sinhozinho voltava e de novo fazia seu espetáculo pra todos verem, parece que esse era seu prazer! Ofender, submeter, Humilhar! O povo queria partir pra revolta, mas Bizú sabia que os negros não teriam chance. A humilhação ficou insuportável e então Bizú me chamou, pediu ajuda pro Exu Okelelê!!! E quando exu aparece é muito diferente do que vocês vêm hoje, exu educado, cumprimentando, tendo paciência. Não é assim. Exu aparece desafiando, gargalhando, causando. Então seu Bizú, agora tá precisando de ajuda?? Eu já não disse que devia fazer a revolta na senzala? E o que você lucrou esperando? Eu não vou ajudar coisa nenhuma!!! Você que se vire com esse sinhozinho! Fiz esse barulho todo, mas é claro que eu queria trabalhar. Seu Okelelê, a situação escapa do controle e necessito operar na magia. Você pode me ajudar? Precisamos dar o trôco e uma lição nesse sinhozinho...
         Depois de muitas exigências etc. resolvi que ia ajudar, e usando meus conhecimentos da África, fizemos uma magia da seguinte maneira: Tomamos o esperma do sinhozinho, isso mesmo, o imbecíl deixava seu sêmen nas negras que violentava, sem saber o perigo que corria. Pegamos um pouco do sêmem, fizemos uma ........, pegamos uma cobra venenosa, uma jararaca.... ..........., ela foi se aninhando ..... e então................
         Muito bem, o restante da magia o senhor decide se vai escrever... Terminando o trabalho, esperamos pra ser se dava certo. E no outro dia lá vem o sinhozinho, todo cheio da pose, com o capanga do lado. Entrou na senzala, dirigiu-se a uma negra bonita e forte e lha agarrou, arrancou-lhe as roupas e atacou. Mas algo não deu certo. Ele não teve potência para penetrar a negra. Tentou, apavorou-se e não conseguiu. Saiu dali doido. 
          No outro dia lá vem ele de novo, agora vem sozinho, vem muito excitado mas não quis arriscar na presença do capanga. Entrou na senzala, olhou devagar e pegou um negra muito jovem, bem mocinha. Arrancou-lhe o gibão desnudando-a e armou-se na sua espetaculosa obra. Mas ao consumar, viu-se de novo sem potência. A negrinha de olhos esbugalhados foi empurrada com violência para longe. Pensou logo em alguma macumba. No terceiro dia, escolheu uma negra jovem esposa de um escravo, na esperança que a humilhação ao marido lhe daria forças. Tinha potência antes, mas na hora, perdia as forças. Em uma situação a escrava negra zombou de sua incapacidade e ela matou a mulher.
         Estava convicto que Bizu lhe tinha feito macumba e foi lhe dirigir ordens e impropérios para desfazer o malefício. Mas Bizu, confirmou o feito e disse que ele nunca ia esquecer dele durante toda sua longa vida de impotente. Ele então mandou açoitar Bizu, para mata-lo no tronco. Quando era levado Bizu disse ao povo que não ia morrer no tronco. Os feitores tinham um tal jeito de armar o golpe do chicote que no golpe arrancavam pedaços de carne e muitas vezes quebravam as costelas dos açoitados. Bizu  suportou 7 chicotadas mortais sem morrer. O feitor cansou de bater e mandou que o recolhessem. Ele saiu vivo do tronco. As negras cuidaram dele e voltaram todas alegres porque ele estava bem, parecia que logo se recuperava. E lá ficou bizu deitado no seu catre. Então ele se levantou, saudou a mim, seu exu guardião e me agradeceu a parceira e daí eu vi ele de pé, mas vi também o seu corpo deitado no catre.
Bizu morrera e partia...

     Bizu morreu! E agora? Dizia o povo da senzala!
     Bizu morreu! E agora? pensou o sinhozinho que não demorou a perceber que tinha se condenado à impotência para sempre, pois o único que podia lhe devolver a força, agora estava morto por sua ordem! 
         E foi assim mesmo, viveu até a velhice, sempre impotente.

     Os escravos então olhavam sinhozinho com desprezo e ódio. Ou ainda pior o olhavam divertidos a lhe gritar com os olhares sua desdita. Sinhozinho quis acabar com sua vergonha naquela senzala. Mandou fechar a senzala e incendiá-la para que todos que conhecessem sua humilhante impotência morressem.
Então veio o exu Sete Chamas, riscou ali seu ponto, a senzala pegou fogo e todos foram queimados vivos e um deles, um negrinho interessado em magia, mas que andava com um rosário nas mãos. Esse negrinho era encarnação desse moço médium que fala as palavras deste baiano Toninho, que já o foi feiticeiro Okelelê. Esse médium também fala as palavras do Vô Bizu, e do flamejante exu seu Sete Chamas.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

P Seu Sete Chamas: Você morreu, agora levanta d´daí e vai pro inferno..

      


            O Exu Sete Chamas contou sobre muitas coisas.


            Essa coisa de morrer é terrível. Nem sempre a gente sabe que morreu. Na última encarnação eu morri em 1974, queimado dentro de um carro e não demorei pra saber que estava morto. Voltei para meu Ponto de Exu. Nesse Ponto eu era o Comandante e quando tinha encarnado tinha deixado outro no lugar e retomaria quando voltasse. Acontece que logo depois de morrer queimado dentro do carro, voltei para o Ponto, fui bem recebido, mas não me lembrava ainda que eu era o Comandante. Eles falavam comigo, me chamavam de comandante, mas eu não me ligava muito com isso e passei a trabalhar ajudando o Chefe, que me tratava muito duramente. Depois de algum tempo, sofrendo os mandonismos do meu chefe, é que me lembrei que eu era o Comandante desse ponto e que o chefe mandão era meu subordinado, e então assumi o controle. Ele sabia disso, mas ficou quieto e aproveitou a situação, mas era amigo também.

          Agora mais terrível do que isso aconteceu na encarnação que tive como como padre, em Portugal, quando morri queimado pela Inquisição, acusado de fazer magias para seduzir as mulheres dos fidalgos que viajaram anos e anos em busca de riquezas e deixavam sozinhas nas vilas  as mulheres, os velhos, as crianças e o padre, o qual era eu e era jovem.
          Me julgaram, condenaram e executaram me queimando vivo em praça pública. Isso na cidade de Fátima, muito tempo antes de essa cidade se tornar famosa.
          Eu vi meu corpo a queimar....mas depois de queimado, eu me achava vivo. Não via meu corpo morto, pois tinha sido queimado e virado cinzas. Então achava que estava vivo e permaneci por ali porque na minha confusão mental, teria de passar por um julgamento. Fiquei por ali uns seis meses. Não sabia que já era morto e nem sabia para onde ir. Ficava esperando o julgamento.
          
         Então, um dia, sentado na escada da igrejinha, vi  aparecerem uns cavaleiros todos de branco, eram cavaleiros cruzados, como daqueles que fala Seu Alexandre, mentor do médium. Se aproximaram e perguntaram: O que você tá fazendo aí? Eu sou padre aqui e estou a esperar o meu julgamento. E eles responderam:   
--Você morreu, você já está morto!  Você já foi julgado e executado! Não é para ficar aí! Você precisa ir para o Inferno! Levanta e vai para o Inferno! 
-- Como assim ir para o inferno? Eu até fui torturado pela Inquisição! 
-- Sim, foi torturado, condenado e executado. Mas você sabia em vida que não podia fazer o que fez.

Sinceramente, gelei, assim que Seu Sete falava, confesso que fiquei incomodado e imaginei o terror da cena, os cavaleiros mandando ele se levantar e ir para o inferno! Daí seu Sete terminou a história:

Então fui para o Inferno, mas logo descobri que o Inferno era o Ponto dos Exus e tinha socorro, instrução e trabalho para resgates.

Mas fiquei bom tempo sem saber que tinha morrido.

Dentro de Ti está o segredo. Amado Nervo

Dentro de Ti Está o Segrêdo

Amado Nervo


Busca dentro de ti, a solução para todos os problemas, mesmo daqueles que julgares mais exteriores e materiais.

O Segredo está sempre dentro de ti, 

 Dentro de ti estão todos os segredos.

Seja para abrir um caminho na mata virgem,
Seja para levantar uma parede, 

seja para construir uma ponte,
Deves procurar, ANTES, o Segredo em ti.

Dentro de ti estão estendidas todas as pontes,
Estão cortadas, dentro de ti, todas as silvas e lianas que fechavam os caminhos.
Todas as arquiteturas já estão construídas dentro de ti.

Indaga do arquiteto escondido dentro de ti;  ELE te dará todas as fórmulas.

Antes de sair à procura do machado mais afiado, da picareta mais rija, da pá mais resistente, 

ENTRA em ti e pergunta.

Saberás o Essencial de todos os problemas:
ELE te ensinará a melhor das fórmulas,
ELE te dará a mais sólida de todas as ferramentas.

E acertarás constantemente, pois dentro de ti
Levas a Luz misteriosa de todos os segredos.


(Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Boiadeiro, cangaço e padre cícero, invocação, lembranças nos encarnados

28 de Dezembro de 2014, domingfo

              Boiadeiro Sebastião de Aparecida:

---Jetoá pra  océis!  Parabéns pelo aniversário, meu irmão mais novo! Você já fez festa de aniversário na tua vida? -- perguntou a mim que fui seu irmão caçula na última reencarnação nos anos 1870.
--Nunca. 
--Teu pai nunca fez uma festa de aniversário procê?
-- Não, não havia esse costume na minha infância. Morávamos numa fazenda com poucas pessoas, lá tinha a nossa casa, a do avô, a casa do tio e a casinha do retireiro e mais ninguém.
--- Mas pro teu irmão ele fez? 
--- Também não!
--- É bão fazer uma festa de aniversário.
--- Não fizemos e também nunca senti falta, e nem me agrada mesmo de festa de aniversário!
--- O vosso pai tá presente, pitando um cigarro de palha, vossa mãe também tá presente, teu tio Iran também.
--- Agradecido pela presença, pela lembrança!
--- Vossa mãe comanda uma turma grande de boiadeiros e boiadeiras.
--- É surpresa saber, porque ela nunca se interessou por fazenda e suas coisas. Sempre foi pessoa da cidade.
--- Mas ela comanda uma boa equipe.
 --- Falei essa semana com o meu tio Josué, irmão de minha mãe!
---- OH que bão, foi irmão meu e teu na última encarnação, nosso irmão do meio. Esse teve uma vida sossegada! Não ficou rico, mas nunca lhe faltou dinheiro. Vive bem e tranquilo. Vosso filho mais novo é muito parecido com ele e da mesma maneira não vai sofrer falta de dinheiro. Esse nosso irmão gosta muito de fumar não é?
--- Sim, fuma bastante, sempre fumou! E disse que agora que já está velho não vai largar mais.
--- Interessante que uma das tarefas dele era largar de fumar nessa encarnação. Não conseguiu! E nem vai morrer disso também! O Iran fumava?
--- Fumava, mas organizava bem sua prática, era controlado.
--- Morreu de câncer, não foi de cigarro?
--- Não, foi câncer no pâncreas. Não foi no pulmão.
--- Bão trabalhador, equilibrado, paciente, generoso demais e de muita fé!

---E o povo da senhora, lá do nordeste? Tem uma tia, sua parente que foi escritora, como chama mesmo?
--- Chamava-se Rachel de Queiróz, foi prima distante, prima do meu avô. Trago o sobrenome Queiróz também. Mas nunca nos encontramos pessoalmente.
--- Essa Rachel de Queiróz foi a primeira mulher escritora a ingressar na Academia, como se chama?
--- Academia Brasileira de Letras.
--- Isso mesmo, ela foi a primeira mulher eleita lá. Ela conhecia de muito perto a vida dos cangaceiros, do povo do sertão. Escreveu o livro Lampião, que conta os desmandos desse cangaceiro, por exemplo, quando ele foi justiçar um homem que tinha roubado uma bodega. Pegou o cabra e disse: Você saia correndo daqui e a primeira árvore que você encontrar abraça ela bem forte! O homem pediu clemência, mas o capitão insistiu, senão ele ia morrer ali mesmo. Esse pobre saiu correndo e abraçou um pé de mandacaru, bem crescido. Você acha que ele sobreviveu? Os espinhos da planta se cravaram nele e a infecção fez o resto.
Lampião formou uma força, que tinha vaqueiros ou pistoleiros sem trabalho, e partiu pra tomar as fazendas e fazer justiça ao povo e distribuir. Fez o diabo por onde passou, uma vez invadiu uma sede e mandou que a família fizesse comida pro bando. As mulheres apavoradas, os maridos sujeitados, aquele monte de cabras pra comer, as pobres foram cozinhando a pulso e alguma coisa nem sempre não saía bem. Na hora de comer, um cabra reclamou: "essa comida tá sem sal". Lampião se aborreceu e ordenou: Encha um prato de sal pra atender o cabra, ele vai comer tudo! O cabra não era besta de desobedecer e comeu o prato de sal e sofreu os efeitos. Essa era a justiça do capitão e assim ainda trabalham os exus da linha de lampião.
 Os coronéis eram muito gananciosos, não conseguiam ver o perigo de um povo desocupado, sem trabalho. Os coronéis eram o povo do poder, mas não davam o mínimo necessário aos seu empregados, tratavam o povo como escravos. Fizeram o desemprego, pagavam salário de esmola e o pobre morria de tanto trabalhar, sem direito a nada na vida. Essa situação provocou a formação do cangaço. Eu entrei nele nos tempos finais da minha vida. Matei senhor de terra. Na minha conta foram seis. E no entanto esses senhores não se meteram a me cobrar do outro lado, porque eles deviam muito mais do que eu. Mas eu tive uma vida de muito trabalho a maior parte dela, só no fim da vida é que me abalei nessa guerra, por isso foi também considerado o que eu fiz de bom. Saí do Mato Grosso, e não sei por que não virei a cabeça do meu cavalo para o sul. Tive de escolher ir pro nordeste, e naquela época, boiadeiro no nordeste era condenado a morrer de fome ou entrar nessa guerra...
--- Você morreu de doença ou no cangaço?
--- Morri na guerra do cangaço, não durei muito tempo nela...Matei seis e nem por isso tive de fazer muito trabalho como exu...
Vocês bem poderiam colocar uma imagem do padrinho Cícero nesse altar... E uma falange muito grande, bonita e poderosa, não pelo padrinho que nem tem parte nela, mas o povo formou essa falange forte.
--- Então não foi o próprio Padre Cícero que formou essa falange de trabalho no plano espiritual, nem conduz? 
--- Não.
--- Então foi com a fé que as pessoas tinham no padim, pela veneração das pessoas é que os Guias espirituais construíram a falange? Eles aproveitaram o material de fé do povo e orientaram a força pelo nome do padim. Mas, na verdade, quem deu o nome não tem essa estrutura?
--- É isso mesmo! A fé é a força! Não importa se o objeto da fé não tenha todo o valor. Os guias de luz que querem ajudar vão se apresentar, identificando-se pelo nome daquele em quem o povo elegeu por mestre. No entanto, o padre certamente veio com missão de fazer a fé. Ele tinha carisma, palavra forte, personalidade forte, foram talentos dados para chamar a atenção do povo. Ele entregou o dom que lhe deu o céu. Mas envolveu-se muito com a política. Isso é bom de de saber, para compreender o quanto é grande e amoroso o poder de Deus, que confia aos filhos para levar grandes tesouros espirituais para a humanidade. É o que acontece com essa bela e fantástica falange do Padre Cícero e o quanto ela é poderosa. [1]
...........
Outra coisa que eu queria dizer é que quando o senhor fizer  a invocação de abertura (do evangelho no lar), não mencionar que  aqueles que vieram prejudicar que recebam a luz também. Seja apenas positivo convidando todos para partir o pão da vida, que deu o Salvador. Pois existem espíritos que vieram para prejudicar e ao ouvir isso, se fecham e não aproveitam. Lembre que espíritos vagando, e mesmo os exus, não lêm pensamentos, eles precisam ouvir a voz física. E vêm aqueles que foram trazidos por alguma invigilancia, pelas brechas abertas e passam a investigar a casa, e quando se deparam com o altar etc., ficam presos aqui até a reunião começar, e daí querem atrapalhar mesmo, e quando ouvem isso, acham que foram descobertos e ficam fechados. Existem também aqueles que não trabalham em nada, mas vêm para assistir, vêm sem intuito e também podem achar que estão se referindo a eles. Esses espíritos necessitados são muito burros e pensam tudo errado, portanto não dê motivo para eles. A gente explica tudo para eles, mas é bom não causar esse trabalho.

 Esse local é pequeno, mas espiritualmente é muito grande, e uma multidão comparece aqui para aprender.
--- Eu não falava assim na abertura e nem sei porque passei a falar isso! De fato isso não é positivo!

---Por ora é só, vossa mãe e outros que estavam aqui já se foram, têm coisas pra fazer, mas o tio Iram ainda está aqui ajudando, e eu já me vou, Parabéns mais uma vez e jetoá!!!  

P.S.: Eu fiz alguma pergunta, não me lembro qual foi e o Seu Sebastião respondeu:
 --- Já faz tempo que eu desencarnei, (por volta de 1930)e todos os que eu conheci na carne já morreram e já não tem lembrança de encarnados sobre mim. Imagine outros como o Alexandre, que desencarnaram no tempo das cruzadas...


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[1] = Padre Cícero Romão Batista (1844-1934) fez voto de castidade aos 12 anos (!!!???) foi ordenado em 1870 aos 26 anos. Por causa de um "milagre" ocorrido, uma beata ao tomar a hóstia esta se tornou em sangue, o Bispo não gostou, suspendeu as ordens em 1894, padim tinha 50 anos. Não pode mais celebrar missas, então entrou para a política, aliou-se aos coronéis da época, participou de uma revolta no Ceará para recuperar o poder à família Accioli, que fora tomado pelo coronel Franco Rabelo. Venceram a revolta, e daí em diante padim se estabelece na política, sendo nomeado prefeito de juazeiro, e até mesmo vice-governador do Ceará. Na política ficou até morrer, em 1934, aos 90 anos. (40 anos de política X 24 anos de ofício religioso). A prática católica tem forte ação política também. Seus bens foram doados para a Igreja Católica.